Há, precisamente, 12 meses, fui acordada por uma chamada telefónica de uma jornalista deste órgão. O intuito? Saber se eu quereria escrever sobre José Mário Branco (JMB). Estremunhada, perguntei: “Mas porquê?!” E, depois, soube.
Fiquei emudecida, sem coragem para desenhar um só parágrafo que fosse. Recordei o papel educativo que teve na minha cidadania política e pessoal; recordei a oportunidade que tive de aprender mais ao falar com ele; recordei a emoção que foi escutá-lo à guitarra ao vivo e, sobretudo, recordei-me da imortalidade da sua obra.
Hoje, mais do que nunca, o JMB faz cá falta, muita falta. Não obstante, hoje, mais do que nunca, as suas palavras elevam-se: a nossa Inquietação pelos dias que correm, a urgência que existe em Ser Solidário, e a premência da cantiga — que continua a ser uma arma.
Para além da actual conjuntura pandémica, para além da vigente estrutura macroeconómica do mundo, para além da corrente emergência sanitária, os seres humanos, independentemente da cor política — (que, reforço, não tenho) —, têm de se unir contra quem tem vindo a ameaçar a democracia num estado laico e republicano. Sim, estou a falar daquele senhor que não merece nome, tempo, nem espaço de antena. Um senhor que aproveita uma “casa onde não há pão” para ralhar e ficar, ainda assim, sempre sem razão.
Regresso à música para vos trazer um lembrete, na voz do Zé Mário e com letra da Natália Correia: “Dão-nos um bolo que é a história da nossa história sem enredo e não nos soa na memória outra palavra que o medo”. Em Queixa das almas jovens censuradas, percebemos que temos de trilhar o nosso próprio caminho, mas que não podemos ir por aí, pelo atalho mais fácil: o da cessação de direitos básicos, fundamentais e humanos.
Por isso, termino como comecei, com o JMB. Podemos mudar os tempos, mas não mudemos as vontades. Mantenhamos a vontade de lutar por um presente e futuro mais auspiciosos.