Joe Biden pode fazer história e escolher uma mulher para chefiar o Departamento de Defesa dos EUA
Já teve vários cargos no Pentágono, foi conselheira de Bill Clinton e sub-secretária da Defesa de Obama. Michèle Flournoy, de 59 anos, é apontada como a mais séria candidata à chefia do aparelho militar americano. Biden diz que a equipa está quase fechada.
O Presidente-eleito dos Estados Unidos Joe Biden, que os analistas dizem estar a preparar um gabinete inclusivo, pode fazer história e nomear uma mulher para chefiar o Departamento de Defesa. O nome apontado como provável para o lugar pela imprensa americana é o de Michèle Flournoy, que fez carreira no Pentágono.
Considerada uma moderada, mas defensora de uma forte cooperação militar internacional, Michèle Flournoy, de 59 anos, já teve vários cargos no Pentágono desde 1990, foi conselheira de Bill Clinton e sub-secretária da Defesa entre 2009 e 2012, quando Barack Obama era Presidente.
Segundo o Washington Post, Flournoy esteve também na administração da Booz Allen Hamilton, uma empresa do sector da defesa, o que pode criar alguns obstáculos à sua confirmação no Congresso caso seja nomeada. Mas, prossegue o jornal, as suas posições moderadas deverão garantir apoio nos dois lados do espectro político (democrata e republicano) do Senado.
Desde que Biden, o candidato do Partido Democrata, venceu as eleições presidenciais de 3 de Novembro, que outros nomes têm sido falados para o lugar, como o do Jeh Johnson, que foi secretário do Interior também na presidência Obama. Mas os analistas salientam que perante a promessa de Biden em constituir um gabinete governativo inclusivo, tudo aponta para que pela primeira na História dos EUA seja uma mulher a assumir a Defesa.
O próximo secretário da Defesa enfrenta dois desafios imediatos: gerir a participação do aparelho militar na frente interna no combate ao coronavírus – o Guardian diz que podem ser chamados para a operação de distribuir a vacina, quando esta estiver disponível –, e ajudar reconstruir a reputação internacional dos Estados Unidos, abalada com a fuga do multilateralismo da Administração Trump, que chegou a considerar retirar os EUA da NATO.
“Seja quem for o próximo Presidente – disse Michèle Flournoy em Março, num fórum do think tank Hudson Institute, citada pelo LA Times – um dos itens no topo da agenda vai ser tentar mudar a percepção” de que os EUA já não são um aliado confiável. Acautelou, porém, que não se devem fazer mudanças drásticas nem vai acontecer de um momento para o outro: “Penso que não vai ser fácil nem acontecer da noite para o dia. Recuperar a confiança vai dar muito trabalho e demorar anos. (...) E uma das tendências mais perigosas, sobretudo quando há mudança de partido [na presidência] é assumir que tudo o que o antecessor fez está errado”.
Nas entrevistas ou palestras que deu nos últimos anos, sabe-se que Michèle Flournoy considera a China o maior desafio dos EUA nos próximos anos. E perante os cortes no orçamento do Pentágono, assumiu o que o país corre o risco de perder para Pequim a vantagem tecnológica que teve durante décadas. Por outro lado, apoiou a decisão de Trump em limitar a presença de tropas americanas no Afeganistão e disse, citada ainda pelo LA Times, que os EUA devem envolver-se mais no combate ao terrorismo nesta região do mundo e menos nos assuntos internos dos países.
Seja ou não Flournoy a escolhida, o próximo secretário da Defesa tem também que apaziguar toda a estrutura militar, que viveu um período conturbado durante toda a Administração Trump – e não só devido aos cortes orçamentais. Trump teve cinco secretários da Defesa em quatro anos: Jim Mattis, Patrick Shanahan (interino) e Mark Esper que foi despedido neste mês de Novembro já depois das presidenciais e substituído interinamente por Christopher Miller. Esper está duas vezes nesta contabilidade pois já tinha sido interino uma vez, quando Shanahan teve que se retirar da corrida ao lugar já durante a fase de audições para a sua confirmação no Congresso devido a acusações de violência doméstica.
Mattis, Esper e Miller têm experiência militar, Flournoy não.
Esper foi afastado por não concordar com o Presidente Trump sobre o envio de tropas para travar os protestos que eclodiram em todo o país após a morte do afro-americano George Floyd às mãos de um polícia.
Biden enfrenta outros desafios na tarefa de escolher o seu gabinete. Perante um país partido ao meio (78,659 milhões de votos para Biden, 71,105 milhões para o Presidente Donald Trump), e depois da promessa de “não ser um Presidente que divide, mas um que une”, tenderia a escolher moderados, como Flournoy, para as secretarias (equivalentes a ministérios). Mas terá também que responder à ala progressista do Partido Democrata, que deseja um governo inclusivo, mas menos moderado para tentar fazer avançar programas em algumas áreas.
Outra mulher, Susan Rice, que foi conselheira de Segurança Nacional e embaixadora dos EUA na ONU durante a Administração Obama, é de momento o nome mais falado para ocupar o Departamento de Estado (negócios estrangeiros). Pode fazer torcer o nariz aos republicanos devido às polémicas declarações que fez em 2012, quando quatro americanos morreram num ataque, no dia 11 de Setembro contra o consulado dos EUA em Bengazi, na Líbia; Hillary Clinton era a chefe da diplomacia americana e Rice embaixadora na ONU. Rice disse que o ataque tinha características de acto espontâneo e não premeditado, tendo corrigido depois as declarações. Foi acusada de “enganar” os americanos por um grupo de senadores republicanos, entre eles John McCain.
Biden ainda não confirmou qualquer nome do futuro governo dos EUA –- apenas anunciou que Ron Klain será o seu chefe de gabinete na Casa Branca. No sábado, foi abordado por jornalistas quando dava um passeio de bicicleta e disse apenas: a equipa está quase fechada.