Covid-19 e a gestão da pandemia na Europa
Se há muito que vivemos a transição digital, porque não optar por prosseguir nos próximos meses com este recurso se se antevê um forte agravamento das mortes?
Num momento em que o nosso país enfrenta uma imensa crise sanitária, e socioeconómica, também a robustez da democracia dependerá do resultado da gestão desta pandemia.
Como já tive oportunidade de escrever sobre este assunto, a 4 de Junho último aqui no PÚBLICO, neste Outono, estação do ano propícia a um agravamento da pandemia é preciso que, nas actividades presenciais, em nome da defesa da saúde pública, se adopte uma estratégia preventiva, alertando para os riscos para a saúde das pessoas, sobretudo em ambientes fechados, onde o risco de contágio é muito superior à que ocorre em espaços abertos. Nesta medida, o recurso ao trabalho digital será uma boa alternativa para manter actividades, salvaguardando a saúde de muitos e evitando uma paralisia da actividade económica. Assim, é necessário controlar a pandemia, sobretudo, minimizando o número de mortes, o impacto financeiro das ausências dos trabalhadores ao trabalho e evitando a paralisia da economia. Pelo que todos os sectores da actividade que tenham a possibilidade de prosseguir actividade mediante recurso a tecnologias de informação e comunicação devem fazê-lo.
Por exemplo, ao nível do ensino, e considerando que este coronavírus se transmite principalmente pelo ar, sendo o contágio facilitado pelo contacto próximo e prolongado, o que aumenta o risco em espaços fechados, com pouca ventilação e muitas pessoas, um importante princípio geral de prevenção deverá ser evitar ajuntamentos e privilegiar os espaços abertos em detrimento dos espaços fechados, a opção por um ensino à distância seria uma resposta eficaz no plano da saúde pública. Se na Europa a transição digital é um dos instrumentos essenciais da estratégia de desenvolvimento, dos objectivos políticos que orientarão a União Europeia em 2021-2027, importa avaliar, antecipando estrategicamente, o seu benefício também nestas crises sanitárias. Com a mudança tecnológica dos últimos anos, no século XXI temos recursos que permitem, felizmente, responder a crises súbitas como a actual, pelo que não se entende que se ignore o potencial do trabalho digital na gestão da actual pandemia, minimizando o impacto das previveis e sucessivas ausências ao trabalho e à escola.
Sem falar do singular caso de Macau, que não regista mortes pela doença covid-19, países como a Coreia do Sul, com uma população de cerca de 51 milhões de pessoas, apenas tinha registado até 5 de Novembro, 475 mortes, o Japão, o país mais envelhecido do mundo, com uma população de 126 milhões de pessoas, apenas 1799 mortes, a Austrália com uma população de cerca de 25 milhões de pessoas com apenas 907 mortes e a Nova Zelândia, com uma população próxima dos 5 milhões, com apenas 25 mortes. Ao contrário da Europa e do continente Americano, onde a doença foi desvalorizada, os dirigentes políticos dos países da zona da Ásia-Pacífico rapidamente perceberam que esta “pandemia covid-19” podia ser um importante teste à qualidade de governação e que cabia enfrentar a ameaça da forma mais estratégica possível, minimizando os danos ao nível quer da saúde pública quer da economia, sabendo que, a prazo, todos serão avaliados por esta gestão da pandemia.
E quando em Portugal se registavam oficialmente, até 5 de Novembro, 2740 mortes, cabe reflectir acerca da gestão desta pandemia a nível europeu. A verdade é que exceptuando alguns países - como, por exemplo, a Islândia, a Noruega, a Finlândia, a Grécia ou a Dinamarca, que têm sido um exemplo neste combate - a gestão da pandemia na Europa tem sido errática. Neste âmbito, os bons exemplos são relativamente poucos e, por exemplo, a Noruega e a Finlândia, países com uma população de cerca de 5,5 milhões registavam, até 5 de Novembro, respectivamente 282 mortes e 359 mortes. Ora, cabe referir que os países nórdicos têm feito a sua adaptação bem-sucedida ao trabalho digital, recorrendo na gestão desta pandemia a mensagens coerentes que transmitam confiança na eficácia da resposta dada.
A cada momento da sua história, a democracia desenvolve-se, simultaneamente, ao nível desta dimensão de confiança, impedindo que aumentem percepções de mal-estar. Ora, se há muito que vivemos a transição digital, porque não optar por prosseguir nos próximos meses com este recurso se se antevê um forte agravamento das mortes? Com a mudança tecnológica dos últimos vinte anos, o trabalho digital permite, felizmente, responder a crises súbitas como a actual e nada justificará não optar por uma solução capaz de salvar muitas vidas.