Arquitectura
De uma tipografia no Porto fez-se um hotel que conta contos e ganha prémios
Projectado pelo atelier Pedra Líquida, de Nuno Grande, o hotel Tipografia do Conto, no Porto, venceu duas distinções do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana. "Com esta conquista, o júri veio mostrar que valoriza a reabilitação destes espaços que estão a degradar-se", diz o arquitecto.
De uma antiga tipografia e oficina de artes gráficas fez-se um hotel repleto de frases, palavras, memórias. Aberta em Março de 2019, a Tipografia do Conto, no Porto, não esconde o passado, antes o exulta — o que convenceu o júri da edição deste ano do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana, que atribuiu a este projecto do atelier Pedra Líquida distinções em duas categorias: melhor intervenção de uso turístico e melhor intervenção da cidade do Porto. "Com esta conquista, o júri veio mostrar que valoriza a reabilitação destes espaços que estão a degradar-se, como é o caso das tipografias", considera Nuno Grande, um dos arquitectos responsáveis pelo projecto, em declarações ao P3.
Situada na Rua de Álvares Cabral, a antiga tipografia Gráficos Reunidos é agora um hotel de quatro estrelas com dez quartos. "A rua é essencialmente habitacional, então o hotel vem trazer, no piso térreo, um espaço diversificado onde podem existir eventos culturais que se podem organizar", constata o arquitecto.
Apesar da remodelação, manter a memória histórica dos espaços foi um dos objectivos dos arquitectos: "Todos estes locais da Tipografia do Conto remetem para a sua vida passada, com a memória do papel a estar presente no edifício". Até literalmente, através das palavras que se descobrem nos tectos, prontos a contarem contos. Da mesma forma, optou-se "sempre que possível" pelo restauro ou reaproveitamento dos elementos preexistentes, como são exemplo as madeiras que cobrem as fachadas no pátio interior", pode ler-se no site do hotel. E há ainda um íntimo jardim com uma piscina.
É como uma continuação do caminho iniciado ali ao lado com a Casa do Conto, o hotel de charme que Nuno e a mulher, a engenheira Alexandra Grande, abriram em 2011. Na base da decisão esteve, sobretudo, o facto de a tipologia deste edifício ser diferente da anterior, como explica o arquitecto: "Nós começámos por reabilitar uma casa antiga na Rua da Boavista e tornámo-la num hotel. Como é pequeno, por só ter seis quartos, decidimos avançar para outro projecto e pegámos nesta tipografia antiga."
No entanto, na opinião de Nuno Grande, a reabilitação destes espaços deve ser pensada e feita de forma responsável. "Deve haver uma preocupação em reabilitar o parque habitacional no centro histórico, e não em tentar construir para fora da cidade e contribuir para a gentrificação", ressalva. Para o futuro, conta o arquitecto, o atelier está a "reabilitar uma ilha operária no Alto da Lapa, que tinha sido em parte abandonada e que ainda tinha alguns moradores" que, garante, "ficarão a viver ali na mesma". O projecto está a cargo de Álvaro Siza Vieira, que "prontamente" aceitou o convite.
Os vencedores do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana, promovido pela Vida Imobiliária e a Promevi, foram conhecidos a 18 de Setembro. Entre os distinguidos estão ainda, entre outros, as intervenções na Igreja de Nossa Senhora do Loreto, do atelier Rebelo de Andrade, no Centro Interpretativo do Vale do Tua, por Susana Rosmaninho e Pedro Azevedo, no Palácio Faria, de Souto de Moura, na Sinagoga de Tomar, de fssmgn arquitectos, e na Super Bock Arena Pavilhão Rosa Mota.
Texto editado por Amanda Ribeiro