Alzheimer: uma doença a não esquecer
Estima-se que em Portugal existam aproximadamente 160.000 pessoas com demência e a tendência global é crescente. É por isso importante estar atento, reconhecer os sintomas e recorrer a ajuda médica atempadamente.
Desde 2012 que se assinala, em Setembro, o mês mundial da Doença de Alzheimer, a doença neurodegenerativa mais comum.
Estima-se que em Portugal existam aproximadamente 160 mil pessoas com demência e a tendência global é crescente. É por isso importante estar atento, reconhecer os sintomas e recorrer a ajuda médica atempadamente. Um diagnóstico precoce e uma avaliação realizada por um profissional diferenciado pode fazer uma enorme diferença na vida do doente.
A doença de Alzheimer é o tipo mais frequente de demência, em que o doente perde faculdades cognitivas (como a memória) e fica progressivamente dependente de terceiros.
Começa, classicamente, de forma subtil e insidiosa, com pequenos esquecimentos. A grande maioria das pessoas, em virtude das condições aceleradas de vida, do stress, do cansaço, do sono mal conciliado, já se esqueceu de algo que rapidamente recuperou ou se lembrou posteriormente. Estes pequenos esquecimentos tendencialmente não são significativos, e decorrem de se estar com a atenção dispersa, “com muitas coisas ao mesmo tempo na cabeça”. É como se, absortos nos nossos próprios pensamentos, passássemos por alguém conhecido na rua e nem déssemos conta da sua presença. Olhamos, mas não vemos. Da mesma forma, fazemos mas não processamos. A estas situações encontra-se subjacente um défice de atenção, não sendo sinónimo, na maioria das vezes, de doença neurológica.
Contudo, se os esquecimentos se tornarem muito frequentes, causarem prejuízo para o próprio ou terceiros, existir compromisso da sua autonomia, da capacidade de se autogerir, resolver problemas, estamos na presença de uma situação inequivocamente mais grave. Surgem, de forma mais declarada e consistente, defeitos de memória, os doentes tornam-se repetitivos, ligam várias vezes aos familiares a perguntar a mesma coisa, desorientam-se no tempo e no espaço. Outros sintomas, não menos graves mas menos frequentes, são as alterações da fala (a dificuldade em se exprimir ou fazer entender), as alterações da marcha com desequilíbrio e dificuldade em andar, e mesmo dificuldades visuais na ausência de doença oftalmológica. Se o doente ou os familiares sentirem que se pode tratar de uma situação deste género, a ajuda especializada poderá ser importante.
Sabemos que a experiência do confinamento e a própria infecção pelo coronavírus agravou sintomas cognitivos que já poderiam existir previamente. A alteração das rotinas, o pouco contacto social assim como o ciclo noticioso reverberante levaram a que muitos doentes tivessem mostrado sinais de descompensação clínica. A retracção do contacto com os cuidados de saúde pelo receio de contágio fizeram, em muitas situações, adiar cuidados com prejuízo para o doente e familiares. Isto é especialmente importante no momento presente, quando se prepara uma eventual segunda vaga da infecção concomitante ao desafio sazonal da gripe.
Um doente que sinta que precisa de ajuda especializada não deve privar-se de o fazer por questões relacionadas com a pandemia. O diagnóstico e orientação precoces poderão fazer toda a diferença, contribuindo para que o desafio mental e físico dos tempos que se aproximam seja enfrentado nas melhores condições possíveis.
A área das demências, e em especial da doença de Alzheimer, é uma área de diagnóstico difícil, com exames auxiliares limitados, em que o diagnóstico não surge, na maior parte das vezes, exarado numa análise ou imagem. Poderemos futuramente ter essa tecnologia ao nosso dispor, mas no momento presente o juízo clínico e a adequada valorização de alguns exames continuam a ser as peças mais importantes para o diagnóstico e instituição do tratamento mais adequado. Esperamos que os avanços da Ciência permitam, a médio prazo, o surgimento de novos exames e tratamentos nesta área de intensa investigação. Nesse aspecto, poderá ser importante diagnosticar precocemente os doentes com doença de Alzheimer. Para isso, os doentes poderão contar com neurologistas com diferenciação especial na área de perturbações de memória e demência.