Não passarão
Podemos garantir uma coisa aos extremistas da direita nacionalista: a luta pela liberdade e pela igualdade é uma luta que se trava sem tréguas, sem medos ou preconceitos.
Já aqui tenho escrito sobre os perigos da legitimação do discurso racista e fascista no espaço público em Portugal e, mais uma vez, é imperativo que se denuncie, se fale e se combata o escalar da deriva racista e fascista a que assistimos no nosso país.
Não estamos a falar de situações hipotéticas ou de meras hipóteses académicas, mas sim de uma realidade muito concreta e que é, de facto, assustadora. Para aqueles que sempre disseram que tais derivas não teriam lugar no nosso país, pois bem, basta olhar para o que tem acontecido.
Depois de no passado fim-de-semana um grupo de mal-intencionados ter levado a cabo uma parada de ódio frente à sede do SOS Racismo, num acto teatral passível de assustar qualquer pessoa de bem, somos agora confrontados com a notícia de que foram enviados vários emails a ameaçar vários dirigentes antifascistas e anti-racistas e respectivas famílias, num acto persecutório quase sem precedentes. O email que ordena a cessação de funções dos dirigentes visados e o seu abandono de território nacional é assinado pelos grupos Resistência Nacional e Nova Ordem de Avis, grupos que a PJ já está a investigar e é vontade de todos que a investigação seja célere e não morra na indefinição.
Neste país que sempre se disse de brandos costumes, a responsabilidade costuma saltar de mão em mão, caindo sempre em sítio nenhum, salvo quando falamos dos que menos podem, daqueles crimes menores ou dívidas menores, até porque essas serão sempre pagas e com os respectivos juros. Contudo, daquilo que falo é daquela responsabilidade em relação ao cumprimento da Constituição da República Portuguesa que plasma no artigo 46.º a proibição de organizações que perfilhem a ideologia fascista. Este preceito constitucional não é um adorno, não existe para massajar o ego de antifascistas, mas para garantir que situações como as que assistimos nestes últimos dias não sucedam e que os seus autores sejam devidamente identificados e punidos.
Mais, este preceito existe também para garantir que partidos como o Chega não recebam o crivo do Tribunal Constitucional, até porque apesar daquele não se dizer explicitamente fascista, perfilha todas as características dessa ideologia do mal. Aliás, nenhum partido se colocará à partida numa posição manifestamente anticonstitucional por saber não conseguir, dessa forma, institucionalizar a sua acção.
Não nos enganemos, é a normalização do discurso do Chega que estende o tapete a estas organizações criminosas e que se sentem agora legítimas na Assembleia da República pelo discurso do deputado André Ventura. São tempos perigosos estes em que vivemos. Missivas a ameaçar e coagir dirigentes e deputados antifascistas e anti-racistas são o reflexo de que estes grupos sentem o à vontade necessário para deitar as unhas de fora sem considerar que poderão sofrer as devidas consequências.
Podemos, no entanto, garantir uma coisa aos extremistas da direita nacionalista: a luta pela liberdade e pela igualdade é uma luta que se trava sem tréguas, sem medos ou preconceitos. Uma vez mais, iremos remeter o fascismo e os seus grupos extremistas para a gruta para onde foram atirados em 1974. Não passarão!