O Central Park Bracarense
Todos nós já ouvimos falar do Central Park em Manhattan. É um parque central, situado no meio da cidade, de vários hectares (à escala da cidade) servindo-a como um “pulmão”, para as pessoas relaxarem. Mas não terão sido com certeza estas as razões que levaram Ricardo Rio a apelidar de Central Park a “cosedura” que pretende fazer entre os seus parcos parques públicos em Braga.
Começo este artigo com algumas citações de um outro que li no passado dia 21 num jornal digital. Fiquei confusa porque não consigo perceber como se escreve que em Braga irá nascer “um espaço verde, com uma extensão de vários Km2, onde é permitida a escapadinha da população ao sufoco da cidade.” E ainda que “este projeto passa, não pela criação do Parque Central – porque este já existe -, mas sim da sua valorização, uma vez que o mesmo nunca foi muito percebido pela população.” E, mais ainda, uma ideia de valorização dos parques e áreas já existentes, devidamente ‘cosidos’ entre si, de forma a que o novo parque seja usufruído em pleno pelos bracarenses.” Frases proferidas pelo Sr. Presidente da Câmara de Braga, responsável por esta cidade.
Quem começa por ler que Braga vai ter uma extensão de vários Km2 fica com a ideia de que Braga irá finalmente usufruir do tão desejado parque urbano numa área central da cidade. Mas, a seguir desilude-se porque fica a saber que este parque já existe, só que ainda não teve oportunidade de se aperceber dele. E depois percebe que, afinal, se trata de uma “cosedura”. O que vai mesmo acontecer em Braga?
Quando falamos de um parque urbano que permita a “escapadinha da população ao sufoco da cidade”, falamos de uma área verde, de grande extensão. E quando nos referimos a grande extensão é mesmo a uma extensão muito maior do que qualquer praça ou jardim público existente em Braga. Precisamente pela sua centralidade e extensão, serão parques que possuem uma importante função ecológica, estética e de lazer. São muito mais do que “pulmões” das cidades, são entendidos como o centro de vida urbana, são uma das opções mais sustentáveis para combater a ilha de calor e a poluição. Quanto maiores e mais concentrados numa área central da cidade, mais benefícios ambientais agregados trazem. As árvores e a vegetação, além de produzirem oxigénio, ajudam a regular a temperatura e a humidade, reduzem a radiação, o ruído do transito automóvel, podendo traduzir-se num verdadeiro oásis para espécies tanto vegetais quanto animais. Também para os cidadãos são o lugar ideal para relaxar ou fazer desporto. Estes sim, são verdadeiros “Central Parks” que poderão trazer benefícios ecológicos e valorizar a cidade num desenvolvimento sustentável desejado.
Na verdade, todos nós já ouvimos falar do Central Park em Manhattan. É um parque central, situado no meio da cidade, de vários hectares (à escala da cidade) servindo-a como um “pulmão”, projetado com o objetivo de ser um lugar onde as pessoas podem relaxar do seu ritmo diário. Mas não terão sido com certeza estas as razões que levaram Ricardo Rio a apelidar de Central Park a “cosedura” que pretende fazer entre os seus parcos parques públicos em Braga. Primeiro porque nenhuma “cosedura” aumentará a área dos pequenos parques já existentes, segundo porque nunca os tornará parques centrais, terceiro porque até hoje nunca combateram a ilha de calor e a poluição da cidade, quarto porque jamais se desenvolverão espécies tanto animais como vegetais em pequenos parques verdes “cosidos” entre si, quinto porque nunca será um local de relaxamento e sexto (para me ficar por aqui) porque jamais será um espaço que regule o ruído do trânsito automóvel.
Importa ainda referir que um dos “parques” que é relatado na notícia como quase um exemplo, talvez por ser o maior - o do Monte do Picoto - é conhecido por até hoje ter sido completamente abandonado pelo executivo, não lhe tendo prestado qualquer atenção como forma de dinamização. Pelo nome se percebe que é de topografia agressiva e, talvez por isso, pela sua quase intransponibilidade em passeio, e por ser deslocado do centro da cidade, tenha sido deixado completamente de lado, não fosse uma empresa de desportos radicais ter-lhe deitado a mão (a uma parte) para um uso adequado. Mas, mais uma vez sem qualquer apoio do município que, além do mais, decidiu instalar os feirantes neste local, inviabilizando a sua utilização a tais desportos às terças-feiras, no dia da feira semanal. Este monte poderia ser ainda aproveitado para projetos de florestação e dinamização de atividades de sensibilização ambiental. É que um dos fatores de atratividade à fruição de um parque verde urbano é, mais uma vez, uma topografia plana, reconhecido pelos maiores projetistas de parques urbanos.
Escrevi no passado dia 20 que a situação ambiental em Braga é preocupante. Pese embora a necessidade de apostar numa estrutura verde em Braga, gastar mais alguns milhões neste investimento não é, com certeza, o que trará desenvolvimento sustentável. Em 2018 muito se falou em mobilidade sustentável, dois anos depois nada do que foi anunciado foi concretizado. A manutenção de árvores centenárias, a criação de espaços verdes em vez das autorizações desenfreadas por espaços comerciais, programas de reabilitação que aumentem a eficiência energética e acústica dos edifícios, são apenas algumas ideias para um desenvolvimento mais sustentável da cidade.