Fazer renascer o movimento estudantil
Hoje assistimos, em contraste com os anos de alvoroço que se viveram no século passado, a uma passividade das comunidades estudantis. Em particular, em Portugal, onde parece que os jovens já não têm causas por que lutar.
No pós-Segunda Guerra Mundial, o nazismo tinha caído. Os anos seguintes foram de ascensão para novas ideologias e movimentos políticos. Vivia-se um tempo de romantismo revolucionário. Os heróis da época eram Mao, Trotski ou Che Guevara. Diversos movimentos de contestação surgiram em todo o mundo e as universidades eram palco e os estudantes voz da emancipação.
Na Europa surgiram contestações estudantis em alguns países como a RFA, Itália e Portugal. No entanto, foi em França que houve a maior revolução, que ficou conhecida por Maio Parisiense. No ano de 1968 duplicaram o número de estudantes nas universidades francesas. Os jovens adultos temiam não encontrar trabalho no final dos seus cursos. Nanterre, uma universidade isolada nos subúrbios de Paris, próximo de um bairro de lata, era o exemplo perfeito das desigualdades e injustiças na sociedade francesa. Em Março, os estudantes ocuparam as suas instalações numa revolta contra o sistema universitário que acusavam ser o pilar da sociedade burguesa. Estas peripécias levaram ao encerramento de Nanterre. Os estudantes, de seguida, organizaram um encontro na Sorbonne. A polícia interveio, 500 estudantes são presos e Sorbonne é também encerrada. As contestações aumentaram, ultrapassando as universidades e agitando o povo francês que se uniu contra o presidente De Gaulle, exigindo melhores condições de trabalho. Foi convocada uma greve geral a que dez milhões de franceses aderiram.
As transformações no século XX foram imensas. Aliado a todas estas mudanças, tanto ao nível social, como no âmbito da geopolítica, surgiu o movimento hippie que se alastrou da América do Norte até à Europa. Desde a emancipação sexual e de direito das pessoas negras, ao sabor da liberdade que procuravam continuamente.
A força dos estudantes e jovens no século XX abalou governos um pouco por todo o mundo. A voz dos universitários lutou por causas e a união conseguiu grandes feitos. Hoje assistimos, em contraste com os anos de alvoroço que se viveram no século passado, a uma passividade das comunidades estudantis. Em particular, em Portugal, onde parece que os jovens já não têm causas por que lutar. Obliteraram a história e a luta dos muitos que enfrentaram a ditadura.
Analisando o contexto histórico que envolvia o Maio Parisiense ou a crise académica em Coimbra, percebemos que existia na época um romantismo revolucionário que perpetuava na grande maioria dos estudantes. Hoje, as modas são outras e os interesses mais fúteis. Perdeu-se o valor pela luta, conformam-se as injustiças e as desigualdades. Dão a democracia por garantida e isso reflecte-se nos números da abstenção das últimas eleições. Ainda que existam forças reivindicativas, estas não têm o impacto doutros tempos. Não têm voz suficientemente poderosa para fazer estremecer governos. As maiorias são passivas e conformistas, descartando as muitas batalhas ainda por vencer. Aparentam uma falta de vontade de sujar as mãos, vivem nas redes sociais, perdidos nas futilidades já entranhadas na sociedade e que corroem o espírito reivindicativo.
Um ensino superior gratuito, o combate à inflação imobiliária para que todos os estudantes tenham a oportunidade de estudar longe de casa, a luta contra os métodos de acesso ao ensino superior e o ficar na história como a geração que venceu a crise climática são ainda conquistas pelas quais temos que lutar. Os tempos podem ser outros, mas os estudantes têm que fazer renascer o movimento estudantil.