Somos Todos Nightingale
Os procedimentos de higiene, limpeza e de distanciamento, como Florence nos ensinou, são os que estão a permitir controlar esta pandemia. Assim sendo, saibamos ser todos Nigthingale, no cumprimento rigoroso dos procedimentos de prevenção da infeção.
A expressão “somos todos” alguma coisa passou a ser usada no vocabulário recente, quase sempre para invocar uma causa que se pretende que seja de defesa geral. Tenho alguma dificuldade em usá-la, pela simples razão de que temo generalizações absolutas. Contudo, cedo no uso desta expressão, com o propósito de reconhecer e apelar a uma causa que, inevitavelmente, se tornou universal. Trata-se da prevenção da transmissão da infeção. E, neste domínio, devemos ser todos (reparem que prefiro “devemos ser” ao “somos todos”) seguidores dos ensinamentos de Florence Nightingale. A enfermeira Nightingale nasceu em 12 de maio de 1820, razão pela qual se assinala o Dia Internacional do Enfermeiro a 12 de maio, e este ano, contamos com 200 anos após o seu nascimento.
Florence Nightingale revolucionou a Enfermagem, ao implementar a formação formal de enfermeiros, mas deixou-nos outros contributos para a promoção da saúde humana, igualmente revolucionários. Os seus ensinamentos no campo da prevenção da infeção e o seu valioso papel na organização dos cuidados de saúde para as forças militares na guerra da Crimeia permanecem até hoje.
De facto, adotamos hoje, na prestação dos cuidados de saúde, os princípios científicos que Nightingale nos deixou no campo da enorme “batalha” de constituir barreiras à transmissão da infeção. São princípios que deram origem a procedimentos que usamos hoje, universalmente, sobretudo em ambiente hospitalar. A limpeza antes da desinfeção; a desinfeção antes da esterilização, numa pirâmide preventiva que se inicia na higiene e limpeza de pessoas, materiais e instalações, que passa pela desinfeção, e chega até à esterilização. De tal forma que, se a desinfeção e a esterilização são essenciais no travar da transmissão microbiana, a higiene a limpeza, constituem-se como o primeiro patamar desta prevenção.
Foi para este ensinamento científico que Florence Nightingale contribuiu, diminuindo acentuadamente a mortalidade por infeção na Crimeia. Foram estes princípios que os enfermeiros e outros profissionais de saúde portugueses usaram, por exemplo, para contribuir para uma descida da taxa de mortalidade infantil de 77,5% nos anos 60 do século passado, para 5,5% no início deste século.
O estranho é estarmos hoje, 200 anos depois do nascimento de Nightingale, a transportar os princípios e os procedimentos de controlo da infeção nos cuidados de saúde para a nossa vida diária. De repente, a nossa casa, o nosso supermercado e a nossa livraria tornaram-se salas de operações, onde a máscara sobressai do brilho das porcelanas de família ou dos títulos da última novidade literária. Ficamos todos enfermeiros de sala de operações.
Mas é necessário! E está a dar resultados!
Os procedimentos de higiene, limpeza e de distanciamento, como Florence nos ensinou, são os que estão a permitir controlar esta pandemia. Assim sendo, saibamos ser todos Nightingale, no cumprimento rigoroso dos procedimentos de prevenção da infeção, através dos gestos simples de lavar as mãos, limpar superfícies a cada toque, usar máscara e manter uma distância que impeça a transmissão do vírus. E assim, daqui a 200 anos, alguém assinalará que Nightingale continuará atual.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico