Covid-19: estudo revela que taxa de infecção em Loulé é 14 vezes maior do que dizem os testes de diagnóstico

Investigadores testaram 1235 pessoas do concelho de Loulé e os resultados indicam que 2,8% dos indivíduos testados já tinham tido contacto com o vírus.

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Testes serológicos mostraram que 2,8% das pessoas analisadas tinham sido expostas ao novo coronavírus Miguel Manso

Testes serológicos efectuados num estudo conjunto da Fundação Champalimaud e do Algarve Biomedical Center em Loulé mostram que a taxa de infecção pelo novo coronavírus é 14 vezes superior à calculada através dos testes de diagnóstico.

Os investigadores testaram 1235 pessoas do concelho de Loulé, com profissões que exigem exposição, apesar das medidas de confinamento: das forças de segurança a bombeiros, membros da protecção civil, profissionais de saúde, trabalhadores do mercado municipal, entre outros.

Os resultados indicam que 2,8% dos indivíduos testados já tinham contactado com o vírus SARS-CoV-2 e desenvolvido anticorpos. Assim sendo, a taxa de infecção é 14 vezes maior do que a calculada nos testes de diagnóstico realizados no âmbito do mesmo estudo, que tinham chegado a uma percentagem de 0,2% para esta mesma amostra. 

Já segundo os dados oficiais para o concelho de Loulé, do último boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde, há 62 casos confirmados registados, o que corresponde a menos de 0,1% da população total. 

Neste estudo, os investigadores optaram por fazer testes para detectar dois tipos de anticorpos: os IgM (imunoglobulina M), que surgem numa fase inicial da infecção e são dos primeiros a ser produzidos para atacar o vírus invasor no organismo, e os IgG (imunoglobulina G), os segundos, que surgem entre duas a três semanas depois do início da infecção, numa resposta imunológica mais específica.

Nestes testes detectaram que 2,8% da amostra tinham anticorpos contra o novo coronavírus no sangue (e em 0,8% dos casos esses ainda eram  IgM).

Ao Observador, Nuno Marques, presidente do conselho executivo do Algarve Biomedical Center, diz que os dois tipos de testes conjugados (de diagnóstico e sero) “aumentaram a sensibilidade” do estudo e permitiram detectar casos de infecção assintomática, que “podia passar despercebida mas que pode infectar outras pessoas”.

A colheita das amostras para o estudo foi feita durante três dias, com realização de uma análise serológica por parte da Fundação Champalimaud e o diagnóstico por parte do Algarve Biomedical Center, num projecto conjunto ao qual deram o nome de CombiCOV. O projecto pioneiro permite “aumentar a segurança, diminuindo riscos na reabertura do país”, segundo refere o estudo. 

Nuno Marques alerta ainda que o estudo “não pode ser extrapolado para outras zonas”. “Estamos a falar desta população específica e estamos a falar de uma zona com diagnóstico baixo. Estes estudos carecem de acompanhamento ao longo do tempo”, sublinha ao Observador, acrescentando que o “confinamento, as medidas de contenção e a intervenção no terreno levaram a que as taxas de infecções tenham sido bastante baixas”.

Texto editado por Patrícia Jesus

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