Que em breve nos seja devolvida a liberdade de assistir às libertinagens dos nobres de Serra
Nem acredito que isto nos está a acontecer, dizia-me uma senhora enquanto me estendia o café, quando procuramos retomar um quotidiano cercado de incertezas. Este fim de semana voltei a Safe (1995), porque havia uma imagem que não me saía da cabeça: Julianne Moore deitada sobre um relvado, com outra mulher a seu lado, rostos encostados, mas corpos em sentidos inversos, Moore pálida e doente, a outra mulher de aspecto saudável, empática com a infectada. Julliane Moore seria dois anos depois a rainha do porno em Boogie Nights de Paul Thomas Anderson, num tempo em que nem a etiqueta de independente impossibilitava o cinema americano de falar com muitos de nós, mas em Safe ela desliga-se progressivamente do seu corpo e do seu mundo, foge à invasão do sexo (era o fantasma da sida nos oitentas) e da atmosfera saturada de Los Angeles, para encontrar um oásis em Albuquerque (Novo México), onde um sacerdote portador da sida pregava todas as abstinências, uma candura como uma purga do corpo e da mente. Depois do Veneno de Genet, era a entrada de Haynes no melodrama, contaminado por Sirk e Fassbinder.
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