Pequenas mudanças na nossa rotina diária, como a introdução de uma nova dieta ou a ida ao ginásio nem sempre são fáceis de concretizar. Ao princípio, a pessoa começa a cumprir mas, pouco a pouco, os hábitos vão-se perdendo, como se não tivéssemos controlo sobre as nossas acções. Por quê? A resposta é complexa.
A norte-americana Rachel Hollis, autora do livro Miúda, Pára de Arranjar Desculpas, publicado pela Lua de Papel , revela algumas das desculpas dadas pelas mulheres para não agirem como querem: “Eu não sou esse tipo de pessoa”, “simplesmente não está nos meus genes” ou “eu não tenho tempo”. A desculpa “não estou à altura” é a mais ouvida pela autora. No subconsciente, a pessoa acredita que está condenada ao fracasso, mesmo sem sequer experimentá-lo, explica. Por isso, para resolver essas “desculpas”, aconselha à elaboração de uma lista e escolher a melhor altura do dia para realizar o que se pretende.
Às leitoras, Rachel Hollis aconselha a não recear o fracasso pois as capacidades vão-se aperfeiçoando conforme vão sendo trabalhadas. No caso das mulheres, o pensamento na sociedade em geral, é que “as raparigas não são ambiciosas”, logo, isso acaba por ser um entrave ao seu desenvolvimento, refere a autora. Então, o que fazer para o contrariar? Deixar de pedir permissão, acreditando no seu potencial e escolher um sonho de cada vez para investir, pois investir em tudo ao mesmo tempo não será eficaz. “Quando digo sonho, refiro-me a algo que se deseja imensamente”, explica.
Aceitar a ideia da conquista, familiarizar-se com a ideia de ambição e pedir ajuda quando necessário são alguns dos passos necessários para realizar um sonho, acrescenta, dando ainda outros conselhos mais práticos como fazer uma boa hidratação; acordar cedo; deixar de comer, durante um mês, um tipo de alimento que faça mal; fazer exercício físico diariamente; manter a casa limpa e criar bons hábitos.
O hábito de permitir que nos dissuadam dos objectivos traçados é dos mais complicados de eliminar. Quando isso acontece, a autora aconselha a questionar se a opinião dos outros deve ou não ser digna de análise. Rachel Hollis alerta que este é um ponto em que, normalmente, as “sonhadoras” começam a “afastar-se do caminho”. A autoconfiança torna-se assim algo importante a ser trabalhado.
É ainda necessário insistir na “eficiência”. Identificar o que distrai a pessoa de trabalhar para o seu objectivo, e evitá-lo. Hollis dá um exemplo concreto: “Para mim, normalmente, é o acesso à Internet e a possibilidade de estar ao telemóvel.”
Substituir maus hábitos
Apesar de todos os conselhos, a pessoa pode sabotar-se a si mesma, aponta Gary John Bishop, autor do livro Pára Com Essa M*rda. Desligar o despertador, não tomar o pequeno-almoço, procrastinar ou esconder emoções são alguns dos exemplos dados. De acordo com o escritor, o indivíduo, mesmo que não se aperceba, funciona em piloto automático, a maior parte do dia, apesar de parecer que é um ser consciente. “A chave para interromper isso é resolver com o que irá substituir esses maus hábitos”, revela o autor ao PÚBLICO, por e-mail.
Por vezes, um “conflito de interesses” entre o subconsciente e as ambições levam a que a pessoa se sabote a si mesma quando as coisas estão a ficar “demasiado boas”. “Estamos programados para sobreviver e, na verdade, preferimos ser infelizes, presos numa vida previsível, em que ‘sobrevivemos’ a lidar com o risco e o desconforto, do que colocarmo-nos no exterior e fazermos o que precisamos de fazer para sermos felizes”, constata o autor.
“O desconhecido provoca-nos medo e consequentemente, insegurança, stress e ansiedade. Permanecer na zona de conforto, ainda que inconfortável, faz-nos sentir maior segurança. O nosso cérebro, por associação a experiências passadas está sempre a alertar-nos e a proteger-nos, mesmo em situações em que não se justifica, fazendo-nos antever catástrofes e antecipando dor e sofrimento”, confirma Margarida Vieitez, especialista em mediação de conflitos, que lançou o livro Sucesso Emocional, em co-autoria com a jornalista Patrícia Matos.
Neste livro, as autoras reuniram relatos de 24 personalidades nacionais, de Simone de Oliveira a Ricardo de Araújo Pereira, passando por Marisa Matias e Pedro Santana Lopes ou pelos atletas Ricardo Quaresma e Naide Gomes. “Neste livro faço uma análise reflexiva sobre as frases com maior impacto proferidas por cada uma [das personalidades entrevistadas], dou conselhos e lanço desafios para aprender a gerir as emoções, a ter autocontrolo, autoconfiança e descobrir o seu potencial”, explica ao PÚBLICO..
O fazer para contrariar os medos? A mudança começa pela aceitação. “Se quiser mudar a sua vida, isso exigirá que seja capaz de reconhecer o ‘quando’ e o ‘porquê’, naqueles momentos em que a pessoa está a ser testada. Entrar no desconhecido é muito mais divertido do que a pessoa pensa”, declara Bishop. Para Margarida Vieitez o conselho é viver, o mais possível, o momento presente. “Se estiver focado no ‘agora’, as auto sabotagens desaparecem. É preciso acreditar nas nossas capacidades e aptidões.”
Texto editado por Bárbara Wong