Dia Mundial do Doente: hoje e todos os dias!
Com muitos anos a pensar e a intervir no sistema de saúde, imaginei o que seria um sistema de saúde realmente centrado no doente, a partir da sua perspectiva.
Hoje é o Dia Mundial do Doente. Colocar o doente no centro do sistema de saúde tem sido uma recomendação da Organização Mundial da Saúde e é uma preocupação transversal aos sistemas de saúde. Infelizmente temos assistido a muitas decisões que ignoram as necessidades e preferências dos doentes. Com muitos anos a pensar e a intervir no sistema de saúde, imaginei o que seria um sistema de saúde realmente centrado no doente, a partir da sua perspectiva:
- Sou ajudado a ter mais capacidade para tomar conta da minha saúde e a cuidar melhor de mim na doença. Recebo a informação que necessito sobre quem cuida de mim e posso intervir nas decisões.
- Tenho possibilidade de escolher os meus médicos e as instituições a que recorro.
- A promoção da saúde e a prevenção da doença são uma prioridade. Existe uma política comum entre todos os ministérios para esse objectivo, porque todas as políticas têm impacte na minha saúde.
- Não sou descriminado no acesso a cuidados de saúde com qualidade, por viver no sítio onde vivo, pela cor da minha pele, pelo meu género, pela minha etnia, pela minha condição social ou por qualquer outro motivo.
- As instituições de saúde a que recorro promovem uma cultura de segurança: não trocam a minha identidade, previnem os erros, as quedas, as infecções hospitalares e muitos outros eventos adversos que podem surgir.
- Tenho acesso a consultas, a exames, a cirurgias e a outros procedimentos dentro dum prazo aceitável para a gravidade e urgência do meu problema de saúde.
- Não sou obrigado a viver debaixo de uma ponte ou na cela duma prisão por sofrer de uma doença mental.
- Tenho a garantia que os meus médicos, enfermeiros e outros profissionais são em número suficiente e têm competência para fazer os exames e tratamentos a que sou submetido.
- Os profissionais de saúde que cuidam de mim partilham a minha informação clínica e não me sujeitam a exames desnecessários nem atrasam o meu diagnóstico por problemas de comunicação.
- Quando sou consultado por algum dos meus médicos, ele tem tempo para mim, é empático comigo, olha-me nos olhos e não passa a maior parte do tempo a olhar para o computador ou a resolver os problemas informáticos, sabe quais são as minhas prioridades na vida e as minhas preocupações, para além de conhecer as minhas doenças, dá-me informações e recomendações que eu compreendo e dá-me a possibilidade de intervir nas decisões. Além disso tenho formas de contactar com ele, entre consultas, quando tenho dúvidas.
- Apesar de o meu hospital fazer parte dum centro hospitalar distribuído por várias cidades, não sou obrigado a peregrinar de cidade em cidade para ir às consultas ou fazer exames porque os serviços de especialidade estão distribuídos pelos vários hospitais.
- Quando for idoso e tiver muitas doenças, não tenho que recorrer sempre às urgências para resolver os meus problemas. Tenho uma pessoa no hospital a quem posso telefonar, uma equipa que me pode ajudar, que avaliou as minhas necessidades, me ajudou a lidar com a minha doença, simplificou a minha medicação, falou com o meu médico de família para combinar a melhor forma de me manter em casa, fora das urgências e das enfermarias dos hospitais.
- Quando na urgência decidem que tenho que ficar internado, se a minha situação o permitir, oferecem-me a possibilidade de ir para casa, onde uma equipa do hospital cuida de mim como se estivesse internado.
- Quando sou internado no hospital por um problema médico urgente tenho um internista que cuida de mim, conduz o diagnóstico do meu problema e chama os outros especialistas quando é necessário.
- Os médicos não ligam apenas à doença que motivou o meu internamento, interessam-se por mim, sabem quem eu sou e o que fiz na vida, o que realmente me preocupa e prevêem as dificuldades que eu vou ter quando tiver alta.
- O hospital preocupa-se em ter um ambiente que ajuda à minha recuperação, como ter acesso a luz natural, cores, cheiros e temperatura agradáveis, música que me ajuda a relaxar, têm arte nas paredes, respeitam o meu descanso nocturno e a minha privacidade.
- Quando for idoso e com muitas doenças e tiver que fazer uma cirurgia tenho, além do cirurgião que me vai operar, um internista que me acompanha desde o início, optimiza a minha condição antes da cirurgia e vigia-me depois de ser operado, até à data de alta.
- Quando estiver perto do fim, os médicos não me sujeitam a tratamentos fúteis, aliviam o meu sofrimento e respeitam a dignidade da minha morte.
- Quando tenho alta do hospital, as pessoas do hospital estão em comunicação com o centro de saúde, os cuidados continuados, os cuidados paliativos, a segurança social, as associações que existem na minha comunidade, para me conseguirem apoio social e uma solução adequada às minhas necessidades e às minhas posses e não tenho que esperar meses ou anos numa cama do hospital por essa solução.
- Eu compreendo que os médicos e outros profissionais lidam com muitas dificuldades que tentam ultrapassar para não me prejudicarem, enfrentam diariamente a incerteza e o insucesso e só nas séries de televisão a realidade é sempre fantástica.