IVA - encenação do PSD com aval do BE
No fim, foi o povo quem ficou a perder porque o IVA da electricidade não vai descer para 6%. A proposta do PCP acabou chumbada e o PSD absteve-se depois de ter dito que votaria a favor.
A “crise” do IVA da electricidade repete de forma quase mimética a “crise” da contagem do tempo de serviço dos professores na encenação montada pelo PSD. A grande diferença foi o facto de o BE desta vez ter decidido sustentar e credibilizar essa encenação, assumindo o papel de avalista do PSD.
Tal como na “crise” do tempo de serviço, o PSD nunca teve intenção de fazer descer o IVA da electricidade. Queria apenas livrar-se do estigma que se lhe agarra à pele desde que o Governo PSD/CDS impôs a subida para os 23%.
O PS, que se recusa desde 2015 a repor o IVA nos 6% - ao contrário do que afirmava entre 2011 e 2015 –, deu ao PSD o espaço para encenar uma intenção de resolver o problema.
Depois do que aconteceu com o tempo de serviço, o PSD não queria desta vez sujeitar-se à figura triste de ter de enrolar a corda depois de o Governo lhe abrir os olhos com a ameaça de uma hecatombe orçamental.
Por isso, o PSD começou o debate com a corda já enrolada e na base da chantagem: ou eram aprovadas as suas contrapartidas de receita ou não havia redução do IVA. E as contrapartidas eram fixadas em condições que os outros partidos não aceitassem para que a responsabilidade do desaire da votação viesse a recair sobre eles e não sobre o PSD.
O PSD acabou por retirar a sua proposta de redução do IVA precisamente no momento em que poderia ser aprovada. E ainda por cima acabou por se abster na proposta do PCP depois de ter garantido que a votaria a favor.
Tudo na actuação do PSD, desde o início, era encenação e o BE sabia-o perfeitamente.
E sabia também que essa encenação do PSD haveria de acabar como acabou na “crise” do tempo de serviço, quando o próprio BE denunciou “o recuo”, “as manobras eleitorais” e as “incongruências” do PSD que deu o dito por não dito na votação que teria resolvido o problema da contagem do tempo de serviço.
Sabendo tudo isso, porque decidiu o BE colocar-se no papel de avalista do PSD, credibilizando as suas falsas intenções?
A recusa do BE em cumprir esse papel teria posto fim à encenação do PSD.
O BE acreditou mesmo que o PSD que aumentou o IVA na electricidade, condenando pessoas a não poderem aquecer as suas casas, ter-se-ia visto de repente impelido por uma preocupação social a resolver o problema que o BE classificou de “questão humanitária”?
O BE acreditou mesmo que o PSD dos recuos, das manobras eleitorais e das incongruências na contagem do tempo de serviço era agora um PSD de fiar, em quem se podia depositar a esperança da reposição da taxa do IVA?
A resposta a essas perguntas revela-se na intervenção do BE no encerramento do debate do OE. Revela-se na forma como o BE absolveu o PSD e suas derivações mais reaccionárias da fraude em que conjuntamente participaram. Revela-se nos ataques desbragados lançados em todas as outras direcções. Revela-se com ainda maior evidência no ataque violento dirigido contra o PCP.
Na verdade, o BE acabou por ser novamente vítima do seu próprio oportunismo e das suas tácticas de circunstância. E não perdoa ao PCP o facto de ter sido o único partido a defender coerentemente posições que até há pouco tempo o BE também dizia defender, por ter sido o PCP o único a ter a coragem para expor as contradições do PSD e não ter embarcado na encenação.
O BE faz mal em atirar-se ao PCP.
O povo continuará a perder enquanto não se juntarem forças suficientes para derrotar PS e PSD nas opções da política de direita que os unem no IVA e em muitas outras questões bem mais relevantes.
O caminho a fazer não é o das tácticas oportunistas que transformam as forças à esquerda em joguetes daqueles que pretendem perpetuar as opções da política de direita. É o da coragem e da coerência de defender uma política alternativa que rompa com aquelas opções.