Somos uma ilha (Fertagus, Transtejo, Soflusa, TST)
Para oferecer um serviço de transportes públicos fiável é necessário investimento público. Mas enquanto ele não chega a margem sul e restante península de Setúbal está a tornar-se uma autêntica ilha com a falência dos serviços de transporte.
São inúmeras as razões que levam à supressão de serviço de transportes públicos, como greves, avarias, material circulante insuficiente e falta de recursos humanos.
A solução destes problemas tem todo o mesmo destino: Orçamento do Estado. Para oferecer um serviço de transportes públicos fiável é necessário investimento público. Mas enquanto ele não chega a margem sul e restante península de Setúbal está a tornar-se uma autêntica ilha com a falência dos serviços de transporte.
A ligação ferroviária entre Setúbal e Lisboa, concessionada à Fertagus, tem equipamento insuficiente para a procura registada. A remoção de bancos para ganhar espaço é uma medida de urgência que já atingiu o limite, e não responde à falta de horários e inexistência de ligação à Gare do Oriente. A razão para estes problemas é a falta de material circulante (sejam elas carruagens, sejam locomotivas), que leva a que concelhos como Setúbal e Palmela tenham entre três a seis vezes menor disponibilidade de serviço e impossibilita a extensão da linha até à Gare do Oriente. E esta é uma estação fundamental para os passageiros utilizarem outras ligações. Mas a produção dos comboios que servem a linha ferroviária foi descontinuada, segundo aponta um relatório do Tribunal de Contas. O Governo, que é dono dos comboios através da Sagesecur (universo da Parpública), não tem resposta no Orçamento do Estado.
Por outro lado, a Transtejo tem uma resposta prometida, mas constantemente adiada, para novos barcos, sendo que os actuais registaram mais de 650 avarias em 2018, que corresponde a igual número de supressões de carreiras. Foram anunciados 57 milhões de euros para novos barcos, mas verba emagreceu para 12 milhões no Orçamento do Estado e até momento ainda não ocorreu o lançamento de um novo concurso.
Ainda no transporte fluvial, a Soflusa continua num impasse, sem verbas para satisfazer as exigências salariais e contratação dos meios humanos necessários à procura actual. A resposta reside nos recursos humanos da Soflusa e na necessária acção do governo.
A sul da Península de Setúbal, a ligação fluvial entre Setúbal e Tróia, que a Administração do Porto de Setúbal concessionou, está fora dos passes sociais. Centenas de trabalhadores utilizam diariamente este serviço, contudo o despacho do Governo foi produzido com defeitos não permitindo financiar comunidades intermunicipais diferentes. Foi um despacho que olhou para as fronteiras do território, mas ignorou os movimentos pendulares, é a forma mais bizarra de promover a mobilidade. Típico de quem acha que se governa o país fechado num gabinete com um mapa em cima da secretária.
A TST, que assegura o transporte rodoviário, alterarou recentemente 28 horários e eliminou quatro carreiras. Entre as que são eliminadas contam-se duas que faziam a ligação da Praça de Espanha em Lisboa até Sesimbra e outra até Seixal.
O PART está a espremer os utentes que, pela falta de ligação de transporte, têm que utilizar os seus carros até às estações de transporte público e muitos dos utentes que o fazem pagam mais de parque de estacionamento do que pagam pelo passe. Devido à falta de capacidade de infra-estruturas, como parques de estacionamento, é possível ver os carros encavalitados na estrada ou terrenos baldios junto à estação ferroviária de Coina, Soflusa no Barreiro e em muitos outros locais. Mesmo sendo parques automóveis pagos, estão sempre lotados e aquém das necessidades.
O governo anterior e o actual pediram ao país para financiar uma medida ambiental e de mobilidade lançando o PART, que permite os passes sociais financiados pela taxa adicional de carbono encarecendo o gás e o gasóleo. O governo anunciou que o sistema de transportes é acessível a todos, todos podem usar, esquecendo-se que o actual sistema era insuficiente antes do PART e faliu por completo depois dessa medida que reduziu os passes sociais. O actual sistema de transportes não é acessível a todos porque não tem capacidade para todos, por isso o PART tornou-se um problema para as pessoas que não conseguem usar os transportes públicos. Esta realidade está a fazer da margem sul e da restante península de Setúbal uma ilha, devido ao acesso muito condicionado ou inexistente às regiões que circundam este território.