Maria Gambina: “Não morri, não parei no tempo”
A loja de Maria Gambina reabriu na Foz, no Porto, após uma pausa que a designer decidiu fazer na sua carreira, em 2013.
Foi o “desencanto” com a moda que em 2013 levou Maria Cristina Lopes, mais conhecida como Maria Gambina, a afastar-se das passerelles. Um interregno que se prolongou até 2018. Um período em que decidiu focar-se na carreira docente na Escola Superior de Artes e Design (ESAD). Foi há dois anos que a designer regressou ao Portugal Fashion para apresentar “Construção”, a colecção de Primavera/Verão de 2019. Foi também o impulso que lhe faltava para decidir que era tempo de reabrir a sua loja, na Foz do Douro, no Porto. A reabertura aconteceu em Novembro passado.
Durante os cinco anos de interregno, a marca continuava a ser procurada por quem se identificava com o seu trabalho, revela ao PÚBLICO. “Significa que não morri, que não parei no tempo”, declara. E são os homens que mais a procuram, acrescenta, constatando que esta é uma descoberta recente. Por isso, tem apostado em criações mais viradas para eles. “Os homens procuram bastante as minhas peças, é uma procura crescente”, sublinha.
Por estes dias, Maria Gambina está a trabalhar na nova colecção, no seu atelier que fica por cima da loja, e que será apresentada já no próximo mês de Março, durante o Portugal Fashion. É na loja que está à venda a colecção mais recente, “Nancy”, assim como algumas peças de “Construção”, que, de acordo com a designer, “são peças únicas, intemporais, que quase não têm estação”. Os preços variam entre os 20 euros, preço de umas meias sem pé desta colecção de Outono/Inverno, e os 600 euros, preço de uns vestidos da última colecção, “Nancy”. Há sweats a 80 euros, camisolas de gola alta a 40 euros, e também roupas consideradas “mais comerciais”, como T-shirts e peças em malha. O espaço é pequeno, mas acolhedor.
De regresso ao atelier, há uma estante onde se encontram as capas com todos os desenhos das colecções já apresentadas pela designer, que são mais de 40. Os armários contêm linhas, tecidos e acessórios que foram usados para a confecção das peças das colecções anteriores, tal como peças de vestuário antigas criadas pela artista. Além de algumas máquinas de costura, é uma mesa grande com desenhos que domina o centro do atelier.
Apoio da indústria
A designer elogia a indústria e o apoio que lhe tem dado na divulgação da sua marca, nacional e internacionalmente. “A indústria está mais receptiva em apoiar. Falo por mim, no apoio que recebi aquando da realização dos desfiles para o Portugal Fashion, na oportunidade de irmos a feiras lá fora [do país], e de entrarmos em showrooms”, revela. O balanço deste regresso é “positivo” e, avança ao PÚBLICO, que desde que voltou ao activo tem outras propostas de trabalho como, por exemplo, fazer fardamento.
A pensar no “bem do planeta”, Maria Gambina aconselha a que não se compre demasiada roupa, e que se comece a optar pelo seu uso em segunda mão. Espera, desta forma, que a reciclagem não seja só mais uma tendência, pois “tudo o que é tendência morre”, encorajando assim a reciclar.
Quando questionada sobre o futuro da profissão, a designer, que é professora desde 1994, responde que há mercado. “Cada vez mais assisto à procura de designers na indústria nacional.” Esta procura é justificada com as mudanças no mundo da moda, pois, já não se vive só de “copiar”, constata.
Se há coisa que a internet e as redes sociais trouxeram de bom é que há maior facilidade em aceder a todas as novidades, logo, é mais complicado imitar, por isso, é necessário “haver sempre alguém que consiga dar a volta ou consiga pôr algum detalhe, ou escolher materiais diferentes, porque se a indústria fizer a mesma coisa quem fizer mais barato é quem ganha mais”, contextualiza a profissional.
Pelas suas aulas passaram nomes que são agora conhecidos como Nuno Baltazar, Paulo Cravo, Katty Xiomara, Ricardo Andrez, Inês Torcato, David Catalán e outros. Maria Gambina considera a valorização da profissão em Portugal “benéfica”, apesar de o público ter demorado a perceber que o designer de moda era “importante, e não era um maluco que só queria criar”. “O designer de moda é um profissional como outro qualquer, e tem um papel fulcral na indústria”, conclui.
Texto editado por Bárbara Wong