Portugal tem uma riqueza natural única: existe, no território português, uma grande variedade de espécies e habitats, como o lince-ibérico no bosque mediterrânico do Vale do Guadiana, os cavalos garranos e lobos nas florestas de carvalhos e faias do Gerês ou, ainda, o pequeno camaleão no litoral algarvio.
É por esta vida selvagem que o território português é considerado um hotspot de biodiversidade. Só existem 36 áreas com esta designação no mundo e ocupam apenas 2,4% da área do planeta. Mas, apesar do seu tamanho reduzido, estas zonas albergam perto de metade das espécies de animais e plantas que existem na Terra. Quando comparado com outros países da União Europeia, Portugal é o quarto país com mais espécies ameaçadas, sendo o primeiro a nossa vizinha Espanha. Isto prova o valor ímpar da natureza na Península Ibérica, mas também os riscos e perigos que enfrenta.
Hoje, cerca de 22% do território português está classificado como Rede Natura 2000, que inclui os Sítios de Importância Comunitária (SIC) e as Zonas Especiais de Conservação (ZEC), resultantes da Directiva Habitats, e Zonas de Protecção Especial (ZPE) resultante da Directiva Aves. A estas áreas acresce a Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP). Mas esta estatística esconde problemas.
Prova disso é a classificação das áreas protegidas portuguesas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). A IUCN classifica as áreas protegidas na seguinte escala, por ordem de protecção ambiental: Ia, Ib, II, III, IV, V, VI, sendo Ia a categoria mais elevada e VI a mais baixa. As áreas protegidas em Portugal com categoria Ia e Ib são de pequena dimensão e encontram-se principalmente no arquipélago dos Açores e Madeira.
Da rede nacional de áreas protegidas (RNAP), aquela que tem um melhor nível de protecção é o Parque Nacional da Peneda-Gerês, com classificação II.
Contudo, a maioria das áreas protegidas insere-se na categoria V, a segunda categoria mais baixa no que respeita à protecção ambiental. Em causa estão parques naturais emblemáticos de norte a sul do país: Ria Formosa, Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Vale do Guadiana, Serra de Aire e Candeeiros, Tejo Internacional, Serra da Estrela, Douro Internacional ou Montesinho.
Apesar de existirem dentro destes parques zonas de protecção distintas no seu todo e em grande parte da sua extensão, o grau de protecção não é suficiente. Situações pouco favoráveis para a conservação da natureza são frequentes, como plantações de eucaliptos em áreas da Rede Natura 2000, vastas áreas de estufas no parque do Sudoeste Alentejano ou barragens nos Parques do Douro Internacional e Tejo Internacional.
A ONU declarou recentemente que a década de 2021 a 2030 será a década da recuperação de ecossistemas. Devemos abraçar este desafio e fazer mais e melhor pela nossa vida selvagem. Em poemas, Portugal é “o Jardim da Europa à beira mar plantado”, mas, para que mereça realmente este belo título, proteger e restaurar a nossa natureza tem que ser uma prioridade.