Susan Sontag: a vida resiste à biografia
O retrato que emerge de Sontag: Her Life and Work, a biografia que Benjamin Moser escreveu sobre a mais famosa intelectual norte-americana da segunda metade do século XX, centra-se na tensão entre a Sontag privada, “real”, e a figura pública, mítica; entre a noção que Sontag tinha de si mesma (e se punia) e o ideal a que aspirava, inclusivamente na escrita.
“Não há que defender o que é nosso deus: um deus defende-se a si próprio”, diz o narrador de Os Manuscritos de Aspern. Escrita por Henry James, esta novela continha, já em 1888, uma advertência contra investigações biográficas. Um crítico literário, admirador fervoroso e insaciável do poeta romântico Jeffrey Aspern, viaja para Veneza e hospeda-se no palazzo decadente de uma antiga amante de juventude do seu herói, na esperança de conseguir deitar mão a um maço de cartas que se encontram na posse da mulher. O contacto com a ex-musa do poeta é decepcionante (o que pode Aspern ter visto nela?!) e os métodos duvidosos do crítico para obter os manuscritos, incluindo uma tentativa de furto e promessas de casamento, resultam em fracasso. No centro da história moral de Henry James encontramos uma desconfiança relativamente às motivações dos biógrafos e um cepticismo quanto à utilidade que o conhecimento da vida íntima de um escritor pode ter para a compreensão ou interpretação da sua obra.
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