ONG encenam sessão de encerramento alternativa na COP25

Depois do desapontamento com as propostas matinais de conclusão da COP25 e após mais alguns adiamentos para se apresentar novas propostas de tentativa de consenso, as ONG decidiram mostrar o seu descontentamento junto a uma das salas principais da cimeira.

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ONG e cientistas estão zangados com a falta de ambição das negociações em Madrid NACHO DOCE/Reuters

Frustradas e zangadas com os documentos que até agora foram sendo conseguidos nas negociações ou por indicação da presidência da 25.ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas, em Madrid, as organizações não-governamentais (ONG) presentes no local decidiram encenar uma sessão de encerramento alternativa, junto à sala Loa, uma das maiores do evento. A decisão foi conhecida após mais um adiamento no prosseguimento dos trabalhos e de uma conferência de imprensa optimista da direcção chilena da COP25.

A conferência estava marcada para as 15h, com a presidente da COP25, Carolina Schmidt, mas quem acabou por aparecer foi outro membro da direcção, Andrés Landerretche, que apresentou um tom de optimismo muito pouco condizente com o que se passara na reunião de avaliação da manhã e com as respectivas reacções daí decorrentes por parte das ONG.

Landerretche disse que, na presidência, estavam “muito contentes”, porque o encontro com as partes – em que vários países apresentam críticas profundas aos documentos em cima da mesa – tinha cumprido o objectivo de se conseguir “um apoio rotundo” para se obter uma maior ambição no documento final.

Questionado pelos jornalistas, muito menos optimistas depois de ouvirem várias partes envolvidas no processo, sobre se poderia haver uma suspensão da COP25 sem conclusões, à semelhança do que já aconteceu no passado, para que esta continuasse daqui a alguns meses, Andrés Landerretche disse que “não estava prevista qualquer suspensão”, prometeu novas versões de documentos para dali a pouco mais de uma hora e afirmou ter a expectativa que a cimeira poderia ficar concluída ainda na noite deste sábado.

O único sinal menos optimista que deu, já no final da conferência, foi quando o questionaram sobre se seria efectivamente possível chegar ao consenso exigido entre todas as partes para que a COP25 tivesse resultados. Nessa altura, afirmou: “Ao final do dia, depende das partes. Se não há consenso entre as partes, não há consenso.”

Foi depois desta conferência e de mais um adiamento da sessão de encerramento da cimeira (a última das quais das 17h para as 22h, hora espanhola, mais uma que em Portugal continental), que as ONG anunciaram a realização de uma sessão de encerramento alternativa, em que várias pessoas de diferentes regiões do mundo iriam falar dos problemas concretos que muitos países estão já a enfrentar por causa das alterações climáticas.

De Portugal, Francisco Ferreira, da Zero, iria falar das vulnerabilidades do país, tanto pela seca como pela subida do nível do mar.

Ao final da manhã, várias ONG tinha reagido de forma dura aos documentos até aí libertados pela presidência da COP25, dizendo que representavam uma “traição”, uma “tragédia” e um falhanço das “partes”. Na altura, Alden Meyer, da Union of Concerned Scientists, referiu que após assistir a todas as cimeiras do clima desde o início, “nunca” assistira “a um divórcio tão grande entre o que a ciência requer e os povos do mundo exigem e o que os negociadores do clima estão a dar”. Uma posição que já fora também assumida por Jennifer Morgan, da Greenpeace (também presente nesta tomada de posição), durante a semana.

Meyer classificou a versão então conhecida das conclusões da COP25 como “completamente inaceitável”, por não ter qualquer exigência para que os países aumentem a sua ambição ao nível da redução de emissões de gases com efeito de estufa até à cimeira do próximo ano, que deverá acontecer em Glasgow. “Se os líderes do mundo falharem” nesse ponto, disse, “vão fazer com que a tarefa de cumprir as metas do Acordo de Paris de manter o aumento global da temperatura bem abaixo dos 2 graus Celsius, com o objectivo de ser muito abaixo de 1,5 graus [dos valores pré-industriais], seja quase impossível de alcançar.” O representante da comunidade científica afirmou ainda, na altura: “O planeta está a arder e a nossa janela de fuga está a ficar mais e mais difícil de atingir.”

Pelas 17h30, as novas versões dos documentos que poderão servir como conclusão à COP25, e que deveriam ter sido disponibilizados pelas 16h, segundo foi dito na conferência de imprensa da tarde deste sábado, ainda não estavam visíveis na plataforma habitual da cimeira.

De manhã, vários países contestaram o facto de não haver nos documentos conhecidos uma referência suficientemente forte à ambição e também o facto de não haver qualquer exigência ou até forte recomendação às partes para que apresentem contribuições nacionais determinadas (NDC, na versão inglesa) melhoradas e mais ambiciosas até à cimeira de 2020. É nestes documentos que devem estar especificadas as formas como os países pretendem reduzir as suas emissões.

Questões como a ausência de referências às questões de género ou aos povos indígenas, e a forma como se estava a prever que unidades de emissões que sobraram do Protocolo de Quioto pudessem transitar, continuando em vigor, foram alguns dos outros pontos muito criticados, dentro e fora da sala de reuniões.

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