O Mundial de râguebi do Japão e a crise profunda do desporto português
Em Portugal há limitações da política pública desportiva que são impostas às federações que impedem a acumulação de capital humano, organizacional e técnico da modalidade.
Decorre no Japão o Mundial de râguebi em que estão presentes 20 países, a saber: África do Sul (5.º lugar no ranking mundial), Argentina (10.º) Austrália (6.º), Canadá (22.º), Escócia (9.º), Estados Unidos (13.º), França (7.º), Gales (3.º), Geórgia (11.º), Inglaterra (2.º), Ilhas Fiji (12.º), Irlanda (4.º), Itália (14.º), Japão (8.º), Namíbia (23.º), Nova Zelândia (1.º), Rússia (20.º), Samoa (15.º), Tonga (16.º), Uruguai (18.º).
A posição de Portugal no ranking mundial do râguebi é a 21.ª. Para estar presente no mundial Portugal teria de estar no lugar da Escócia (que é uma nação com cerca de 5,4 milhões de habitantes [mh]), de França (país com 67,5 mh), de Gales (nação com 3,1 mh), Geórgia (país com 4,4 mh), da Inglaterra (nação com 55,6 mh), da Irlanda (país com 5,2 mh), da Itália (país com 62,4 mh), não falando da Rússia (com 132,2 mh).
Há sempre quem pergunte se Portugal que só tem 10 milhões de habitantes pode vencer países várias vezes maiores. A resposta é simples: a Nova Zelândia tem 4,6 milhões de habitantes e é regularmente a campeã mundial de râguebi. Ou seja, no râguebi as nações e os países não se medem aos palmos! A política pública desportiva aplicada ao râguebi é o factor determinante do sucesso mundial da modalidade.
O que impede que a selecção sénior nacional compita na Taça do Mundo de râguebi?
Vários factores de produção podem impedir a excelência do râguebi nacional como o engenho dos jogadores, o talento dos treinadores, a capacidade dos líderes do râguebi. Estes factores são internos à modalidade e já demonstraram no passado ter exemplos de capital humano de qualidade extraordinária. O râguebi português é a modalidade de equipa que teve líderes como Raul Martins, Dídio Aguiar, Pedro Lynce, Pedro Ribeiro que lideraram treinadores como João Paulo Bessa, José Nicolau, Tomaz Morais, os quais produziram excelentes resultados de nível mundial que se estenderam por vários anos com jogadores como Raul Martins, Nuno Durão, João Queimado, Vasco Uva, Luís Pissarra, Miguel Portela Morais, Pedro Leal, João Correia.
Em Portugal há limitações da política pública desportiva que são impostas às federações que impedem a acumulação de capital humano, organizacional e técnico da modalidade como acontece nas melhores federações nacionais de râguebi como as acima referidas.
No caso do râguebi depois do momento extraordinário, a produção caiu e a federação chegou a ter passivos elevados, tendo de nomear uma direcção com a missão exclusiva de salvar a modalidade. A causa desse fracasso coube às políticas públicas que impediram o desenvolvimento do râguebi para níveis de prática ainda superiores aos que já tinha atingido. Dado que a falência da produção do râguebi se concretiza ao longo de 12 anos deve-se afirmar que as organizações públicas não foram capazes de corrigir as políticas públicas ou de actuar sobre os aspectos menores da liderança federada, até à falência desportiva, financeira e orgânica da federação de râguebi.
Houve dois casos de federações nacionais como a federação espanhola e a federação das ilhas Fiji que levaram à substituição das respectivas direcções nacionais, por imposição do Estado espanhol e de organizações internacionais do râguebi, devido a incumprimentos das responsabilidades pelas direcções das federações nacionais em funções e que após a correcção dos erros incorridos se verificaram melhores resultados desportivos.
O râguebi tem desafios excepcionais como o maior confronto físico das equipas que naturalmente exigem soluções técnicas igualmente extraordinárias. O Japão está a receber cerca de 400.000 turistas que são adeptos incondicionais do râguebi o que é pontuado pela magnífica prestação da sua selecção nacional.
Portugal podia estar no Mundial de râguebi do Japão! Portugal não é um país pequeno como alguns dirigentes desportivos e políticos costumam afirmar! As políticas públicas do desporto são pequenas!
Há várias décadas que os partidos políticos que lideram a pasta do desporto e os que estão na oposição não impedem o impacto negativo das suas políticas no desenvolvimento da juventude, como demonstra a performance do râguebi português.