Degelo na Antárctida está a acelerar a ruptura dos glaciares
Observou-se na Antárctida, pela primeira vez, a relação entre o deslizamento dos glaciares e a água em estado líquido na sua superfície.
É normal os glaciares quebrarem-se e deslizarem em direcção ao oceano. Quando a neve e o gelo derretem, a água no estado líquido pode penetrar o glaciar, chegar à sua base e funcionar como um lubrificante que acelera o seu deslizamento. Uma equipa de cientistas observou pela primeira vez a ocorrência desse fenómeno em glaciares da Antárctida. Esta nova informação é importante porque ainda não tinha sido considerada nas previsões sobre o aumento do nível médio da água do mar.
O novo estudo, publicado esta sexta-feira na revista Nature Communications, mostrou que o desprendimento de alguns glaciares na península Antárctica – próxima da América do Sul – ocorria 100% mais depressa do que a velocidade normal em vários dias ao longo do ano. Através de imagens de satélite e de dados climáticos, os autores da investigação concluíram que a aceleração do movimento desses glaciares coincidia com picos de derretimento da neve durante a época de degelo.
O derretimento da neve e do gelo forma uma rede de lagos e correntes de água derretida na superfície dos glaciares. Se essa água conseguir chegar à base do glaciar, pode contribuir para a sua desagregação. Com o aumento das temperaturas causado pelas alterações climáticas, é expectável que o derretimento da superfície de neve e gelo da Antárctida aumente. “Por isso, a aceleração da ruptura dos glaciares pode tornar-se mais comum”, antecipa Jeremy Ely, autor do estudo e investigador da Universidade de Sheffield, Inglaterra, citado em comunicado da instituição.
Pete Tuckett, o primeiro autor do estudo e investigador da Universidade de Sheffield, em comunicado, afirma: “A relação entre o derretimento da superfície e a velocidade de deslizamento dos glaciares está bem documentada noutras partes do mundo”. Os cientistas sugerem que o comportamento dos glaciares da península Antárctica passará a ser idêntico ao dos glaciares da Gronelândia e do Alasca. Nessas regiões, a água derretida controla a dimensão e o timing da ruptura dos glaciares ao longo do ano.
O efeito desta mudança sobre os glaciares da Antárctida não consta dos modelos utilizados para prever as modificações na massa de gelo daquele continente. Jeremy Ely alerta: “É crucial que este factor seja considerado nos modelos sobre o aumento do nível do mar, para que nos possamos preparar para um mundo com menos e mais pequenos glaciares.”
Texto editado por Andrea Cunha Freitas