Os partidos políticos querem ou não aproximar os mais jovens da política?
As preocupações, motivações e interesses de quem tem 18 anos são diferentes de quem tem 24, 25 ou 26 anos. Num tempo em que se discutem as vantagens e as dificuldades do acesso ao direito de voto aos 16 anos, não poderão os partidos políticos fazer melhor para aproximar os mais jovens à política?
Sobre os números da abstenção dos jovens portugueses nas recentes eleições europeias, sobre o círculo vicioso que se parece alimentar de uma desafeição mútua entre os jovens pelos partidos políticos e vice-versa e, ainda, sobre as razões da abstenção e da sua relação com o individualismo, a imaturidade, indolência ou, em suma, com uma putativa má vontade cívica dos jovens, já se falou aqui, aqui, aqui e aqui.
Tenho dois filhos que terão oportunidade de votar pela primeira vez nas eleições legislativas que se realizarão no próximo dia 6 de Outubro. Têm-se voluntariado para actividades de apoio à comunidade no nosso município, mas nunca estiveram envolvidos na militância política. Ambos sabem que votar é um direito, que a consagração plena do direito de sufrágio foi assegurada a ferros e demorou e que é uma responsabilidade de cidadania. Sabem, também, que votar é uma escolha. No nosso círculo eleitoral, terão de optar por um entre 20 programas eleitorais diferentes, isto é, por aquele que aos 18 anos lhes parece que mais contribuirá, simplificando o que Aristóteles pensou sobre a Política, para o “bem comum” e para que tenham uma “vida feliz”.
Não obstante, falta-lhes entusiasmo, aos meus filhos e aos seus pares de escola e de amizade, para fazer o escrutínio dessas medidas e soluções. E quando contraponho às asserções desoladoras que vou ouvindo do “não tenho paciência para isso” ou “não vou votar porque não percebo nada de política”, que a informação está à distância de um clique nos sítios oficiais de cada um dos partidos políticos, o seu estado de espírito não se anima e talvez tenham algumas razões para isso.
Da volta que fiz com eles sobre um único tema, o do ambiente, em programas eleitorais, e em que ajuizei, porventura mal, que os podia motivar, aqui ficam alguns exemplos: o programa eleitoral do CDS-PP tem de ser descarregado em PDF, estendendo-se o tema das alterações climáticas por 52 páginas. O processo é idêntico no PS, mas se nos detivermos, apenas, nas principais medidas, podemos reduzir a leitura para umas 25 páginas. Já a mesma consulta no partido Aliança se mostrou curta em texto — menos de oito páginas — mas com um índice mau conselheiro, isto é, que em vez de nos levar até ao capítulo dedicado ao “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia Circular” nos fez desembocar nas “Obras Pública e Transportes. A Ferrovia”.
É certo que outros partidos como o BE, o PSD, o Nós, Cidadãos! ou o LIVRE tentaram agilizar esta leitura, mas na organização dos conteúdos e na facilidade das pesquisas para jovens mais velhos. Por contraste, a Iniciativa Liberal talvez tenha “descomplicado” demais. Já o PAN parece ter exorbitado a tarefa “de trocar por miúdos”, deixando os meus filhos confusos sobre a relação entre medidas como “restringir a largada massiva de balões e lanternas de papel em eventos” ou “elaborar e implementar um plano de acção para combater a mortalidade das abelhas”, com a resposta à emergência climática.
As preocupações, motivações, interesses e capacidade de reflexão de quem tem 18 anos são diferentes de quem tem 24, 25 ou 26 anos. Num tempo em que se discutem as vantagens e as dificuldades do acesso ao direito de voto aos 16 anos, não poderão os partidos políticos fazer melhor para aproximar os mais jovens à política? Os meus filhos acham que sim e eu, também, depois do que li, vi e pensei à luz dos seus olhos.