Pelo poder vale (quase) tudo
Apelando ao lado perverso do conceito da “realpolitik”, António Costa e o Partido Socialista defendem que em tempo de ganhar eleições vale (quase) tudo para manter o poder. Depois e só depois se tomam as medidas essenciais e difíceis para garantir o futuro do País.
Vivemos numa Europa sob o efeito placebo imposto por alguns dos seus mais altos responsáveis europeus. Há quem diga já que estamos a caminho de mais uma década perdida.
Em julho deste ano, do outro lado do Atlântico, a estação norte-americana CNN – depois de ouvir uma série de especialistas – alertava para o risco de uma nova crise no continente europeu, caso não fossem tomadas medidas de revitalização económica para contrariar a estagnação que se vive há uma década.
Passaram dez anos após a crise financeira global que abalou a Europa e a economia, apesar de conseguir uma ligeira recuperação, não está a conseguir uma revitalização sustentada como se pretenderia. Indicadores como a baixa inflação, baixas taxas de juros e baixo crescimento tornaram-se comuns e vulgares, transformando um padrão que deveria ser excepcional num padrão normal.
Numa economia de ciclos onde as oscilações da atividade económica a médio e longo prazo predominam, os ciclos económicos são considerados flutuações periódicas no desencadear da actividade económica com uma duração que vai de dois a dez anos e que descrevem a dinâmica de um grande número de variáveis económicas alternando entre períodos de prosperidade e recessão.
Em Portugal, a lógica dos ciclos também se aplica e temos sinais do passado que demonstram que os sucessivos erros na condução da política económica e orçamental agravaram o mal-estar nacional e contribuíram para a estagnação económica, que acabaram por conduzir a uma crise tal como previa a lógica dos ciclos.
No entanto, para além do passado, existem hoje indicadores que nos devem deixar alerta, uma vez que as prioridades da política económica dos últimos anos têm sido claramente erradas e, a avaliar pelo fraco crescimento da economia, a tendência não parece melhorar.
Além disso temos também o excessivo despesismo do Estado, com enorme custo de oportunidade para a economia nacional, visto que estes recursos afectos ao Estado poderiam ser poupados ou ser utilizados de modo mais produtivo.
A agravar ainda mais o panorama temos já indicadores de dificuldades de competitividade por parte de alguns dos nossos sectores produtivos, numa altura em que algumas das nossas indústrias mais inovadoras e dos sectores emergentes precisavam de ser apoiados, o que não tem sido o caso a avaliar pelo fraco investimento público e pelo fraco nível de incentivos à atividade económica.
O Governo tem vindo a optar por ignorar os problemas estruturais da economia portuguesa e tem embarcado numa trajetória sem crescimento da poupança e com indicadores de despesismo que voltou a aumentar o peso do Estado, não ajudando assim ao crescimento da economia.
Com uma provável recessão na Alemanha e em Itália, que irá diminuir o volume da produção e da actividade empresarial, o efeito de contágio à economia portuguesa parece óbvio. Além do mais, com o “Brexit”, Portugal terá perdas na ordem dos 2,3 mil milhões de euros, desequilibrando ainda mais a nossa balança comercial que, em julho, viu os seus indicadores agravarem-se.
O Presidente da República também já deu nota dos sinais e demonstrou a sua preocupação com a ausência de medidas de prevenção em caso de crise. No texto de aprovação da lei laboral, Marcelo revela que está preocupado com a desaceleração da economia, temendo que isso tenha consequências no mercado laboral português.
Também Poul Thomsen, o primeiro chefe de missão do FMI em Portugal no tempo do programa da troika (assinado pelo Partido Socialista), veio avisar que a grande maioria dos governos europeus não estão a fazer o suficiente para se protegerem da próxima crise.
Até a recém-nomeada comissária europeia, Elisa Ferreira, veio alertar os socialistas referindo que ao nível da Zona Euro os progressos existentes não chegam. E vai mais longe dizendo que, mesmo com o ajustamento dos países europeus e reformando a arquitetura da zona euro, não se garante uma Europa preparada para uma nova crise.
No entanto, mesmo com todos estes sinais e alertas dos mais variados protagonistas, António Costa parece não querer ver e ouvir. Porque será?
Como dizia o ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, “o poder desgasta, sobretudo quando não se tem”, e António Costa sabe bem que assim é. O primeiro-ministro prefere o desgaste de quem gere o poder do que o desgaste de quem luta para o conquistar.
Apelando ao lado perverso do conceito da “realpolitik”, António Costa e o Partido Socialista defendem que em tempo de ganhar eleições vale (quase) tudo para manter o poder.
Depois e só depois se tomam as medidas essenciais e difíceis para garantir o futuro do País.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico