Acidentes rodoviários: quatro em cada cinco vítimas mortais são homens
Seja na condição de peões, passageiros ou condutores, os homens estão sempre em maioria nas estatísticas da mortalidade em acidentes de carro.
Das 675 pessoas que morreram em acidentes de carro no ano passado, 536 eram homens — são 79% das vítimas mortais. Os números, que fazem parte das estatísticas sobre as vítimas no período até 30 dias após o acidente em que estiveram envolvidas, foram publicados pela Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária (ANSR).
Em qualquer categoria — dividem-se em peões, passageiros e condutores — há mais vítimas mortais do sexo masculino, mas é entre os condutores que a diferença é maior: 392 eram homens e 43 eram mulheres.
No caso dos peões, em 2018, registaram-se 58 vítimas do sexo feminino e 98 do sexo masculino. Quanto aos passageiros, morreram 38 mulheres e 46 homens.
Para José Miguel Trigoso, presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), este é um problema de comportamento e não se explica só pelas diferenças em número de condutores por sexo. Aliás, os dados do Instituto da Mobilidade e Transportes (IMT) relativos a 2017 mostram que os homens representam 57% do total de pessoas com carta de condução válida — há 6,5 milhões de condutores em Portugal.
“[Os homens] correm mais risco, são mais agressivos e como condutores atropelam com mais velocidade”, diz o especialista da PRP. É por isso que “têm muitos mais acidentes mais graves”.
No que diz respeito aos condutores intervenientes em acidentes rodoviários os homens também estão em maioria. São 69% do total. “Há problemas de comportamento que têm de ser trabalhados em termos de comunicação e de alteração desses comportamentos”, defende José Miguel Trigoso.
Sobre os dados publicados pela ANSR, o especialista da PRP chama ainda a atenção pela tendência de aumento dos sinistros dentro das localidades. “É aqui que temos o ‘calcanhar de Aquiles’ da segurança rodoviária”.
Uma análise comparativa com outros países europeus mostra que Portugal “tem tido menos mortes por milhão de habitantes nas estradas nacionais e fora das localidades do que a média da União Europeia [UE] e menos mortes por quilómetro de auto-estrada, mas depois tem muito mais mortos por milhão de habitantes dentro das localidades”.
Para fazer face a este problema, Trigoso diz que é preciso maior “organização das vias urbanas e a adequação da qualidade das vias ao tipo de trânsito que servem”. A gestão da velocidade também será fundamental. Dentro de uma localidade, “diferenças de velocidade entre 30 km/h (quilómetros por hora) e 40 km/h; 40 km/h e 50 km/h; 50 km/h e 60 km/h; podem parecer minudências, mas não são”, diz o especialista. “Nesses locais, pequenas velocidades têm consequências enormíssimas na redução e na violência dos impactos.”
Até existe “um manual técnico para determinação de limites e locais máximos de velocidade que devia estar a ser aplicado de forma obrigatória e não está”, denuncia o presidente da PRP.