A representação (é) que faz a força
O país tem toda a vantagem em ter sindicatos fortes e representativos e um associativismo empresarial igualmente firme e participativo.
Adoro teatro. No teatro há muito que se abandonou a ideia de que representar é sinónimo de fingir. Não é preciso invocar Fernando Pessoa para demonstrar que só quem vive o que está a fazer consegue elevar-se do macaquear para a arte e, nesse patamar, envolver todos os presentes. Representar é “fazer as vezes de”, “ser mandatário de”.
Saindo do palco para a polis, assumimos que vivemos numa democracia representativa e que os políticos nos representam, enquanto cidadãos com distintas orientações, como forma de encontrar soluções políticas e socialmente aceitáveis.
Entende-se também que há vantagens num sistema de representação clara, firme e transparente em termos económicos. A propósito da anunciada greve dos motoristas de matérias perigosas, a CIP – Confederação Empresarial de Portugal emitiu um importante comunicado em que alertava que “este é um momento que exige uma reflexão profunda […] numa conjuntura propícia à emergência de movimentos e pressões de grupos mais ou menos restritos, orgânicos ou inorgânicos, de cariz radical ou populista. A fragmentação do movimento associativo, nomeadamente do movimento sindical, com o surgimento de um número significativo de novos sindicatos não enquadrados nas centrais sindicais, torna mais difícil a resolução de conflitos pela via do diálogo”.
Vejamos a questão pela positiva: o país tem toda a vantagem em ter sindicatos fortes e representativos e um associativismo empresarial igualmente firme e participativo. A concertação social em Portugal já demonstrou méritos, quer de capacidade de diálogo frutuoso, quer de alinhamento sobre os fatores de desenvolvimento do país. Os acordos de concertação social foram bons para trabalhadores e para empresas, mas sobretudo para o país. Aliás, os países mais desenvolvidos têm dado bons exemplos de que a concertação social confere estabilidade, mas também incentiva a competitividade. Saúda-se a intervenção corajosa do ministro Vieira da Silva, que, há umas semanas, defendeu o “diálogo social estruturado”, dizendo que os atores inorgânicos são fator de perturbação e que comete um erro quem pensa que pode retirar ganhos destes processos.
Do lado empresarial, e sem colocar em causa a representatividade das outras confederações, vejo a CIP, onde me incluo, como a voz das empresas. As empresas e associações acreditam que a CIP é a entidade mais adequada para propor e sustentar medidas que contribuem para o investimento privado e para a eliminação de constrangimentos ao desenvolvimento empresarial.
Na mesma linha, na área da saúde, o recém criado Conselho Estratégico Nacional da Saúde da CIP, que congrega a generalidade das associações representativas de diversos agentes económicos da Saúde, é um exemplo de como é possível e útil trabalhar em conjunto, na defesa do setor e de um Sistema de Saúde de qualidade, acessível e eficiente, em que os portugueses confiem, e que seja um fator de competitividade nacional, criador de valor social e económico.
Especificamente na prestação de cuidados, a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) assume-se como a entidade que representa os hospitais privados e integra, em Portugal, a Federação Nacional de Saúde (FNS) e, em contexto europeu, a União Europeia de Hospitalização Privada (UEHP). À APHP compete, entre outras, a representação dos interesses legítimos dos associados, a intervenção junto das diversas instituições da área da saúde, nacionais e internacionais, diligenciando pelo respeito pela função social e económica da hospitalização privada. Acreditamos que, salvaguardadas regras da concorrência, é no associativismo empresarial que se ganha legitimidade, massa crítica e capacidade de intervenção. Temos, por isso, a ambição de tornar a APHP atrativa para todas as unidades hospitalares privadas do país.
A todos interessa que as diversas partes estejam identificadas, que se saiba o que defendem e a quem representam, que possam ser responsabilizadas, quer pelos seus membros, quer por outros interlocutores, pelas posições que tomam. Se o associativismo, sindical e empresarial, tem de se reinventar, para responder às expectativas dos que quer representar, também o Governo não deve ter dúvidas em assumir o associativismo como o interlocutor para os diálogos estruturais. Presidente da APHP. Membro da Direção da CIP. Membro do Board da UEHP
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico