O desafio: criar uma bebida, uma sopa, um prato principal e uma sobremesa poupando água. No Pátio da Água da EPAL, em Lisboa, o chef Chakall aceitou o desafio e não só fez a refeição completa, como procurou não deitar nada fora, aproveitando todos os ingredientes e interligando receitas. Tratou-se de um evento dedicado ao tema da Economia Circular, promovido pela EPAL, a empresa responsável pelo abastecimento da água na capital, com 0% de desperdício e 100% sustentável.
O argentino de turbante, que escolheu Portugal para viver e trabalhar, cresceu na cozinha do restaurante da mãe e com ela ganhou respeito por aquilo que se come, conta aos jornalistas, no final da semana. Durante duas horas, o entusiasta da sustentabilidade cozinhou e explicou todas as fases do processo, ao mesmo tempo que entretinha os convidados com a sua boa disposição e histórias de vida.
Começou por servir um chá frio, feito com casca de abacaxi, lima, gengibre e hortelã. O abacaxi foi aproveitado mais tarde para a sobremesa, um carpaccio, e o gengibre para o prato principal, frango com ratatouille e risoto de legumes e cogumelos. Os legumes e os ossos do frango do prato principal foram reaproveitados para a entrada, um caldo. Tudo isto servido em pratos, copos e talheres amigos do ambiente. A água utilizada na panela para cozer os alimentos, como o frango ou os legumes, foi a mesma. Desta forma, o chef mostrou como podemos poupar e reutilizar água na cozinha. Este é um tema na ordem do dia já que grande parte do consumo de água é feito em ambiente doméstico.
Mas antes da refeição, Chakall falou ao PÚBLICO. “Tenho filhos, cinco, e o meio ambiente não é uma brincadeira, é muito importante. As pessoas têm de estar conscientes disso”, começou por dizer. Para ele, as práticas de economia circular não são novas e já as aplica há muitos anos: “A primeira coisa que vou fazer [chá com casca de abacaxi], faço há mais de 20 anos em Portugal. Fazia coisas para evitar o desperdício das cascas do ananás e outras coisas. Sempre tive uma preocupação com esse tema.” E dá mais exemplos: “As cascas servem para fazer caldo, servem para sumos, para chás de cítricos, de ananás, de imensas frutas que se podem utilizar, cozer, reutilizar. E, depois de cozidas, utilizam-se para a compostagem.”
No caso da poupança de água, o argentino deu algumas dicas: “Na máquina de lavar pratos podemos cozer ovos, podemos utilizar uma panela em vez de dez, quando cozinhamos porque, muitas vezes, é indiferente o sabor dos alimentos, já que, no geral, quando fazemos um prato, os alimentos ligam-se entre si. Cozinhar com vapor, também.”
Com iniciativas como esta, a EPAL pretende inspirar os lisboetas para reutilizar a água na cozinha. Cerca de 87% dos lisboetas consome água da torneira. José Sardinha, presidente do conselho de administração da EPAL, explica ao PÚBLICO que estas actividades servem “para mostrar que as atitudes sustentáveis podem ir muito além, não só com água da torneira mas também com os próprios desperdícios dos alimentos e tudo mais que podem ser utilizados para compostagem”.