Elon Musk está um passo mais perto de ligar os nossos cérebros à Internet
Empresa em que o magnata investiu já testou o sistema em animais de laboratório e pretende começar testes em humanos no próximo ano.
O multimilionário da tecnologia Elon Musk não se quer ficar apenas pela colonização de Marte. Além dos projectos desenvolvidos na área da tecnologia aeroespacial, com a SpaceX, e dos avanços da Tesla nos automóveis eléctricos e autónomos, Musk quer agora explorar a mente humana.
Esta semana, a Neuralink, empresa na qual Elon Musk investiu 100 milhões de dólares (89 milhões de euros), deu os primeiros passos para atingir o objectivo de introduzir um implante num cérebro humano. A empresa pediu autorização à reguladora norte-americana (a Food and Drug Administration) para começar a testar os dispositivos em humanos e deverá começar a fazê-lo no próximo ano, de acordo com o jornal The New York Times.
O sistema, segundo a BBC, já foi colocado e testado num primata, que foi capaz de operar um computador através do cérebro. A empresa de Musk disse ainda que se pretende focar em pacientes com doenças neurológicas severas, apesar de o magnata da tecnologia perspectivar um futuro em que existirá uma “cognição super-humana” que não será usada primeiramente para fins médicos.
Cientistas independentes ressalvaram, contudo, que os resultados obtidos em animais poderão ser diferentes em humanos e que seriam necessários muitos testes em pessoas.
O implante desenvolvido pela Neuralink consiste numa pequena sonda com mais de três mil eléctrodos ligados a pequenos fios – mais finos do que um cabelo humano – que pode monitorizar a actividade de mil neurónios. A vantagem do sistema, diz a empresa, é que seria capaz de activar áreas especificas do cérebro, tornando o processo seguro do ponto de vista cirúrgico. Seria também possível analisar registos através de aprendizagem automática, que depois serviria para adequar a estimulação cerebral às diferentes necessidades dos pacientes.
Durante a apresentação do projecto, Musk esclareceu que “não controlarão os cérebros das pessoas” (há quem se preocupe com ciberataques ao cérebro) e que “demorará muito tempo” até que os objectivos sejam atingidos. Em ocasiões anteriores, Musk já havia deixado o alerta de que a inteligência artificial poderia destruir a raça humana. O milionário garantiu ainda que falta muito tempo até que o serviço possa ser comercializado.
O dono da Tesla explicou que, conectando o cérebro a uma interface externa, criaria um novo modelo de “superinteligência”. Este sistema significaria que o ser humano estaria numa espécie de “simbiose com a inteligência artificial”, não estando totalmente dependente dela. No fundo, seria possível ligar o cérebro humano à Internet e permitir que uma série de processos fossem realizados apenas através da estimulação do cérebro.
O presidente da Neuralink, Max Hodak, partilhou o optimismo de Elon Musk e disse ainda que os cirurgiões a trabalharem no projecto teriam, numa primeira fase, de fazer pequenos furos no escalpo para implantar o aparelho. Mas afirmou que no futuro seria possível introduzir o microcomputador no cérebro com recurso a pequenas incisões realizadas por laser.
Krittika d’Silva, uma especialista da NASA presente no evento de apresentação, afirmou, citada pela BBC, que a tecnologia descrita “é entusiasmante, porque é significativamente menos invasiva do que os trabalhos anteriormente realizados na área”. Andrew Hires, professor assistente de Neurobiologia na Universidade da Califórnia do Sul, escreveu no Twitter que a Neuralink tinha conseguido obter o melhor da tecnologia de laboratório existente.
Mas não é só a empresa de Musk que pretende aventurar-se no desenvolvimento de interfaces cerebrais. A Kernel, uma empresa tecnológica dirigida por Bryan Johnson, tem em curso teste semelhantes que pretendem “melhorar e expandir a cognição humana”.
Os desafios tecnológicos que a Neuralink enfrenta têm obrigado Musk a procurar financiamento. A empresa já obteve 158 milhões de dólares em financiamento e tem 90 empregados, pretendendo recrutar mais.
A empresa planeia trabalhar com neurocirurgiões da Universidade de Stanford e de outras entidades de renome nas primeiras fases das experiências.