Contra as rendas altas, Berlim renacionaliza 670 apartamentos na avenida Karl Marx

Estado deverá pagar entre 90 e 100 milhões de euros pela posse de centenas de apartamentos para democratizar o acesso à habitação e lutar contra a escalada das rendas.

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A avenida construída durante a divisão das duas Alemanhas estende-se quase por dois quilómetros ao longo de Berlim federica gentile/getty images

A cidade de Berlim adquiriu 670 apartamentos na avenida Karl Marx, depois de décadas nas mãos de um investidor privado. A artéria da capital alemã, construída entre 1952 e 1960, foi um dos principais eixos de um grande projecto urbano socialista da então Alemanha de Leste, e os seus edifícios pertenciam ao património habitacional da cidade. Nos últimos meses, no entanto, tornou-se num palco da contestação à gentrificação e ao aumento do preço das rendas em Berlim.

A disputa pela posse dos imóveis iniciou-se em Novembro de 2018. Na altura, a empresa que assegurava a gestão dos apartamentos, a Predac, anunciou a intenção de se desfazer dos imóveis e de os passar para a maior imobiliária da cidade, a Deutsche Wohnen.

Temendo um aumento de renda, os arrendatários das várias fracções mobilizaram-se e organizaram marchas de protesto, pendurando faixas e cartazes no exterior dos seus apartamentos, onde se lia a frase “protesto contra a especulação” ao longo de várias janelas.

Depois de meses de querela entre a autarquia e a empresa que detinha os apartamentos, foi anunciado esta segunda-feira que três quarteirões, onde se contabilizam 670 imóveis, serão adquiridos pela Gewobag, a empresa pública que gere a habitação municipal na cidade (equivalente à lisboeta Gebalis).

Apesar dos valores da aquisição não terem sido confirmados por nenhuma das partes, a renacionalização dos edifícios na avenida que liga o centro de Berlim à zona de Friedrichshain deverá custar aos cofres públicos uma quantia entre os 90 e os 100 milhões de euros.

O presidente da câmara de Berlim afirmou que esta decisão faz parte de uma estratégia para readquirir habitação pública que no final dos anos 1990 foi vendida a privados (o que contribuiu para o rápido aumento das rendas na cidade).

Michael Müller, autarca da capital alemã, disse, citado pelo jornal britânico Guardian, que “os berlinenses devem poder continuar a conseguir viver na cidade”. “É por isso que foi e continua a ser a nossa intenção comprar apartamentos onde pudermos, para que Berlim retome o controlo do seu mercado imobiliário”.

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