Li hoje a notícia que nos conta que Lisboa passou a ter uma nova ambulância de socorro animal, ambulância esta que é um excelente exemplo da utilidade das candidaturas do orçamento participativo das cidades, justificando o investimento no mesmo. Não tenho acesso a números precisos, mas os números da vida real fazem-me perspectivar que cada vez são mais as pessoas que vivem com um animal de companhia, até mesmo aquelas que viveram meia vida a recusar-se a uma realidade como esta.
E digo de companhia porque talvez o cerne do crescimento seja esse mesmo para muitas pessoas, neste tempo em que vivemos no qual as relações humanas são cada vez mais amorfas, vazias, temporárias e com um ecrã como fundo de parede entre nós e os outros.
Um animal de companhia preenche em muitas casas a solidão das paredes que viram os filhos seguir com o curso natural da vida; e preenche a solidão da ausência da esposa ou do marido que partiram. O animal de companhia preenche a função natural que muitos corações humanos encontram para respirar, através da sensação de ter alguém ao seu cuidado, alguém que depende do seu despertar diário.
O animal de companhia é, para outros, um exemplo de responsabilidade e afecto que desejam que cresça junto dos mais novos lá de casa, das nossas crianças. E, para os últimos, o animal de companhia sempre foi uma presença de casa, geração após geração, sendo perfeitamente natural.
Não deixa de ser curiosa a forma como vejo os animais interagirem com as crianças, como se fossem capazes de perspectivar a inocência das mesmas através dos caminhos do amor e do afecto. Já vi felinos despirem a sua personalidade tão característica deixando bebés puxarem-lhes tudo e mais alguma coisa — e todos os que temos ou já tivemos gatos sabemos bem o que isto significa.
Mas mais curioso ainda é ver alguns animais terem comportamentos mais humanos, que muitos humanos seriam capazes de ter.
O Tomás, apesar do nome humano, era o cão da minha vizinha. Todas as manhãs, quando o Tomás ouvia o vizinho já bastante idoso sair de casa, começava a ladrar para o deixarem sair e acompanhar o homem no ritual de compra do jornal no quiosque do outro lado da rua. O Tomás não era um cão guia; no entanto, e após a morte da vizinha, passou a fazer isto, todos os dias, sem motivo aparente ou estímulo.
Teria várias histórias como esta para contar sobre animais de estimação. E, uma vez mais, a alcunha que sucede a palavra “animais” é justa. De animais de companhia passo a referir animais de estimação porque, efectivamente, acredito que os devemos estimar tal como fazemos com as pessoas.
É reconfortante ver que, finalmente, as nossas leis e os nossos governantes perceberam que os nossos animais são, na realidade, muito mais do que animais, muito mais do que um terceiro elemento qualquer nas nossas vidas. É reconfortante saber que hoje, num momento de aflição ou de doença, temos a quem recorrer para, da forma adequada, sabermos tratar dos nossos animais.
Finalmente, estamos a conseguir saber proteger aqueles que nada pedem e tanto nos dão incondicionalmente.