myPolis: esta app quer criar uma pólis para os millennials

Aproximar os jovens dos políticos — eis o grande objectivo do economista Bernardo Gonçalves, criador da myPolis. Qualquer pessoa pode enviar propostas para o seu município e fazê-las chegar a quem decide. Para já, a app está no terreno em algumas zonas de Lisboa e Algarve.

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João Bastos, Maria Pignatelli e Bernardo Branco Gonçalves, a equipa por detrás da myPolis Rui Gaudêncio

Se, por um lado, os jovens estão afastados da política, por outro nunca estiveram tão imersos no mundo digital. A pensar nisto, Bernardo Branco Gonçalves decidiu criar uma plataforma para empoderar a geração dos millennials, dando voz às suas ideias e vontades. A myPolis pretende ser uma ponte entre as duas margens das decisões políticas — quer ligar quem as toma com quem as recebe.

Bernardo, de 26 anos, estudou Economia — tanto na licenciatura como no mestrado — na Nova Business School. Foi quando era presidente da associação de estudantes que se apercebeu das dificuldades que tinha em compreender as ideias e posições dos estudantes que representava. Não conseguia chegar a eles e, assim, obter as informações que precisava para melhor responder às suas necessidades. Saído da universidade, começou a trabalhar numa consultora e aí percebeu: através da internet, conseguia auscultar as opiniões das pessoas e pôr em prática medidas eficazes mais facilmente.

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Bernardo tem 26 anos e é economista de formação Rui Gaudêncio

Foi com a ideia de “tornar mais fácil para os decisores políticos ter acesso aos inputs dos cidadãos que estão a representar” que surgiu a myPolis. A fórmula é simples: através de uma aplicação no telemóvel, qualquer pessoa pode submeter propostas para o seu município e até a nível nacional. A ponte é feita por quem gere a plataforma — a equipa faz chegar todos estes contributos aos respectivos decisores políticos.

Depois de lançarem a ideia, em 2018, começaram a ganhar prémios de empreendedorismo — como o Democracia Digital da representação portuguesa da Comissão Europeia, no valor de quatro mil euros — e acabaram por se estabelecer na Casa do Impacto, em Lisboa. É lá que, desde Outubro, Bernardo, João Bastos e Maria Pignatelli desenvolvem o projecto ao lado de outras startups, com quem já chegaram a juntar forças (ver caixa). 

No fundo, a ideia é criar uma pólis — à semelhança do conceito da Grécia antiga — onde se construa uma democracia aberta e participativa, em que os jovens têm voz. “O que queremos fazer é trabalhar em projectos com os próprios municípios e decisores políticos para que eles possam estar em tempo real a analisar a informação que vem da plataforma”, acrescenta Bernardo, durante a vista do P3.

De Lisboa para o mundo

Ainda não têm representação em todo o país, mas já mostram quem são pelos lados de Lisboa, por Oeiras, Massamá e Monte Abraão. Aí, a população fala e os decisores já ouvem: segundo o jovem, foram submetidas na aplicação cerca de 40 propostas e algumas estão já a ser postas em prática. Exemplo disso é o Jornal da Juventude pedido por jovens na União de Freguesias de Massamá e Monte Abraão. Mais para sul, começaram também a actuar em Lagoa, no Algarve.

Para além do formato digital, também têm sido feitas algumas acções no terreno. Uma equipa de seis pessoas já foi às ruas destes municípios para perceber quais são as propostas e ideias dos habitantes e fazer a promoção da plataforma. Nas zonas em que já trabalham, refere Bernardo, “é uma estratégia do município acolher essa participação dos cidadãos e dos millennials e tê-la em conta na sua tomada de decisão”. “E”, afiança, “o fluxo funciona bem”. Ou seja, torna-se mais fácil concretizar as ideias apresentadas pelos cidadãos porque há da parte de quem decide vontade para dar resposta.

Não querem ficar por aqui. “Estamos a começar a implementar em alguns sítios que também nos permitem ter ciclos de aprendizagem mais curtos para fazer escalar depois o projecto nos vários municípios que já demonstraram interesse”, explica Bernardo. Depois do âmbito local, esperam chegar ao nível nacional e internacional, nomeadamente tentando encontrar algum tipo de colaboração no contexto da União Europeia. Já tiveram, até, “várias demonstrações de interesse fora de Portugal”.

Independentemente da dimensão do projecto, Bernardo assegura que a receptividade dos decisores políticos tem sido boa. Aqueles com quem já trabalham estão dispostos a receber e a trabalhar as propostas dos cidadãos; os que ainda não entraram na plataforma, já demonstraram interesse em fazê-lo. É, aliás, com isso em mente que a plataforma disponibiliza demonstrações para as câmaras municipais ou juntas de freguesia que não trabalham (ainda) com a aplicação. Tudo para as ajudar a rumar em direcção à Democracia 4.0.

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