Por este Douro acima (e abaixo) ao ritmo da vela
Não é fácil desacelerar, mas depois não queremos nada mais do que avançar lentamente entre as margens que são vinhas e são a história do vale do Douro. O rio marca o compasso e nós somos os argonautas possíveis: navegar é (mesmo) preciso, porque viver é preciso.
Se tudo começou com uma insónia, os momentos em que nos deitamos no pufe na proa do Julieta parecem troçar dela. E agradecer a inquietude que assaltou António Pinto nessa madrugada de há dez anos em que começou a sua aventura de colocar veleiros no rio Douro. Porque as suas insónias de então são a nossa tranquilidade (a raiar a sesta, sejamos honestos) nesta tarde de final de Abril, com o Inverno, aparentemente, a render-se finalmente à Primavera: navegamos Douro acima, com a vela aberta ou à boleia do motor (caprichos do vento), olhos fechados ou pousados nas encostas. Socalcos, pequenos bosques, quintas aqui e ali, montes que se vão abrindo à nossa passagem, só assim revelando segredos; ao longe, no cimo, uma povoação, num patamar alto, uma escavadora amarela; mais adiante passa o comboio, também amarelo, equilibrando-se junto do rio, aparecendo e desaparecendo em túneis, do lado sul, uma comitiva de motos segue ruidosa, mais abaixo, junto à margem, alguém de blusão vermelho encostado ao carro (como chegou ali?) contempla o Douro. E nós, com embalo, contemplamos também – sem sobressaltos, com disponibilidade tranquila.
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