Os telemóveis nem sempre são um problema de phubbing. Podem, com a sinergia certa, ser as ferramentas perfeitas para uma melhoria significativa na dinâmica que temos com familiares e amigos que vivem geograficamente longe mas, também, pontos primordiais de bons momentos de partilha com quem nos rodeia.
Antes de mais, gostava que pensássemos nos recursos e evolução tecnológica em Portugal: os dados disponibilizados pela ANACOM, indicam-nos que no primeiro semestre do ano passado 95,7% dos residentes em Portugal eram clientes de serviço telefónico móvel. Referem, ainda no sumário executivo, que “os utilizadores efectivos do serviço móvel de acesso à Internet atingiram os 7,2 milhões (…), o que corresponde a uma penetração de cerca de 70 por 100 habitantes": “O crescimento da utilização destes serviços está associado ao aumento dos utilizadores de Internet no telemóvel.”
Em suma, temos uma razoável boa cobertura tecnológica no que toca à utilização de telemóveis e de Internet móvel. Esta tendência produz impactos positivos, na medida em que há um maior acesso e democratização de canais de comunicação, mas também impactos negativos: são já várias as vozes e os estudos que alertam para a crescente anomia relacional que resulta do uso excessivo dos telemóveis. Fica a ideia de que vamos ficando cada vez mais conectados às redes e comunicações virtuais, mas que poderemos estar cada vez mais desconectados do mundo real, ficando isolados mesmo no meio da multidão.
Por isto, penso que devemos mudar o nosso chip no que toca ao comportamento face à utilização dos telemóveis. Com um simples telemóvel descobrimos coisas incríveis na Internet que nos inspiram ou informam; usamos os motores de pesquisa para localizar, no imediato, serviços, produtos e endereços; fazemos chamadas e escrevemos mensagens para agilizar – funcional e emocionalmente – a vida. Estas funcionalidades podem ser verdadeiros milagres que nos permitem delegar uma série de planeamentos e gerir várias eventualidades, ali, na nossa palma da mão.
A diferença que podemos (facilmente) implementar é tão simples como: usar os telemóveis para promover partilha e para reduzir o isolamento, nunca o contrário. Vejamos o caso de quem está emigrado (ou migrado no próprio país). Nem sempre é possível gerir disponibilidades de ordem de tempo e dinheiro para que todos os elementos de uma família/amigos se sentem à mesma mesa, mas as novas tecnologias permitem que estejamos na mesma mesa, mesmo que virtualmente.
Temos agora o exemplo da Páscoa: em poucos dias, muitos (e)migrantes poderão não ter oportunidade de regressar a casa da família/amigos para esta festa. Porém, poderão ter a oportunidade de fazer chamada Skype/ WhatsApp (ou similares), podendo na mesma partilhar histórias, falar, rir, chorar e sentir que não é a distância geográfica que elimina o amor. Nestes momentos, reaviva-se a noção de que somos unidade e comunicação, que são dois dos ingredientes mais preciosos na receita que é a construção de um futuro conjunto.
Com tudo isto: os telemóveis são então maravilhosos? Sim, mas também podem ser péssimos. Tudo depende sempre do nosso discernimento de saber dosear uma utilização saudável que não nos prive do contacto com o mundo que está ali, a pisar o mesmo chão que nós, com o mundo que podemos construir quando partilhamos a maravilha dos canais de comunicação.