Cientista português desenvolve biossensor para detectar vírus da dengue
Investigador português no Reino Unido está a desenvolver um sensor de diagnóstico precoce e de possível baixo custo do vírus da dengue. Ainda sem vacina, a cada ano estima-se que esta doença afecte 390 milhões de pessoas mundialmente.
Está a ser desenvolvido um dispositivo com sensores altamente sensíveis para a detecção precoce do vírus da dengue. A investigação realizada pela Universidade de Bath (Reino Unido) é coordenada pelo investigador português Paulo Rocha e pretende criar um sensor de baixo custo, capaz de detectar eficazmente a presença do vírus na sua fase mais precoce. Além da importância do diagnóstico para o rápido combate à doença, este pode ser um dispositivo essencial às comunidades dos países em desenvolvimento onde este vírus é especialmente incidente.
Este projecto de investigação pretende “desenvolver um biossensor integrado para descodificar o papel da proteína NS1 no desenvolvimento da febre do dengue”, explicou ao PÚBLICO Paulo Rocha, investigador e professor assistente na Universidade de Bath, no departamento de Engenharia Eléctrica e Electrónica. O NS1 (proteína não-estrutural) é uma proteína produzida pelo vírus da dengue que serve muitas vezes como marcador para diagnosticar esta doença. No entanto, muitas das pessoas infectadas com o vírus produzem este elemento em pequena quantidade e só é possível identificá-lo numa fase mais avançada da doença.
Este biossensor que se materializa numa plataforma quadrangular de três centímetros pretende descodificar o papel da proteína NS1 na febre da dengue e identificá-la antes do vírus se desenvolver. “Se conseguirmos detectar o vírus da dengue antecipadamente, conseguimos finalmente tratar eficazmente os sintomas e impedir o vírus de progredir para uma infecção mais séria”, nota Paulo Rocha num comunicado da Universidade de Bath sobre o projecto.
A rapidez e a eficácia são alguns dos objectivos desta investigação, assim como a acessibilidade. “Idealmente o valor deste sensor seria inferior a um euro”, refere o investigador português ao PÚBLICO. Desta forma, um diagnóstico rigoroso e antecipado estaria disponível a todas as famílias de regiões subdesenvolvidas em África ou na América do Sul.
O dengue é uma doença transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Estes mosquitos são mais comuns nas regiões tropicais e subtropicais do mundo, preferindo temperaturas mais elevadas. Existem quatro variações do vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4) e todos causam os mesmos tipos de sintomas como febre, dores musculares e, o caso mais grave e potencialmente fatal, a febre hemorrágica do dengue. Uma nova estirpe do vírus da dengue foi descoberta recentemente.
Actualmente, a vacina disponível só é recomendada para as pessoas que já tiveram a doença. No entanto, há várias equipas a trabalhar para o desenvolvimento de novas vacinas dedicadas a este vírus que, por vezes, ameaça surgir num surto na Europa ou nos EUA. A infecção transmite-se através da picada destes mosquitos infectados com o vírus, não havendo transmissão pessoa a pessoa - o mosquito pica uma pessoa portadora do vírus e transmite-o a outra quando a pica. Estima-se que, anualmente, ocorram 390 milhões de infecções em todo o mundo e cerca de 25.000 mortes por ano mundialmente.
“Hoje em dia não existem fármacos nem ferramentas eficientes para entender e diagnosticar atempadamente a debilitante febre hemorrágica do dengue”, aponta o investigador português. O seu projecto de investigação pretende contrariar esta realidade e introduzir no mercado um sistema capaz de analisar o comportamento das células humanas infectadas por diferentes quantidades de NS1 e identificar o vírus antes que este progrida. Embora ainda não exista um produto final, a equipa de investigação irá começar a testar, já no próximo ano, a sensibilidade do sensor assim como a “medição, percepção e distinção dos quatro vírus antigenicamente distintos (DEN-1, DEN-2, DEN-3, e DEN-4)”. Este dispositivo pretende ser igualmente eficaz para a detecção do vírus Zika e do vírus da febre-amarela. “No futuro, este trabalho possibilitará o desenvolvimento de sensores sensíveis, de baixo custo e descartáveis (penso cutâneo), que permitam uma análise e percepção atempada deste vírus”, adianta ainda Paulo Rocha.
Este trabalho de investigação da Universidade de Bath está a ser desenvolvido em parceria com o departamento de Física da Universidade de São Paulo (Brasil). “Os sensores que detectam a sinalização eléctrica de células e de NS1 estão integrados e desenvolvidos”, assegura o investigador. O próximo passo está na avaliação e validação do dispositivo e, futuramente, na sua comercialização. Apesar de notar que esta nova tecnologia será útil para a população mundial, Paulo Rocha sublinha que a ferramenta será particularmente importante para as comunidades dos países subdesenvolvidos onde este vírus causa mais vítimas e onde o acesso à saúde é mais deficitário.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas