Mário Cruz expõe a poluição extrema das Filipinas numa exposição e num livro
Depois da nomeação para o World Press Photo, Mário Cruz vai ter uma exposição e um livro com as imagens que captou nas Filipinas. Living Among What's Left Behind é um "apelo" à "reacção".
O fotojornalista português Mário Cruz inaugura em Abril, no Palácio Anjos, em Algés, Oeiras, uma exposição do trabalho que desenvolveu nas Filipinas, que será publicado em livro e já chamou a atenção da organização do World Press Photo.
Living Among What's Left Behind ["Vivendo entre o que é deixado para trás”, em português] reúne imagens que o fotojornalista captou durante um mês nas Filipinas, onde visitou comunidades que vivem ao longo do rio Pasig, testemunhando uma situação extrema de poluição ambiental que os habitantes enfrentam há décadas.
Na exposição, cuja inauguração está marcada para 6 de Abril e que estará patente até 26 de Maio, serão mostradas 40 imagens, das milhares captadas pelo fotógrafo. No dia da inauguração da mostra é apresentado um livro, editado pela Nomad e desenvolvido pelo Estúdio Degrau, com “70 fotografias, entre o preto e branco e as cores, que retratam, de forma crua, a realidade que Mário Cruz encontrou em Manila”, de acordo com um comunicado da equipa editorial da Nomad.
A capa do livro foi produzida “através do processamento de 160 quilogramas de resíduos industriais e desperdícios de uso doméstico”, sendo cada uma “criada individualmente e à mão, resultando em exemplares com capas únicas, que simbolizam a abundância de lixo deixado para trás”.
Mário Cruz é um dos premiados na categoria Ambiente do World Press Photo 2019, com uma fotografia que mostra uma criança a recolher materiais recicláveis, para obter algum tipo de rendimento que lhe permita ajudar a família, deitada num colchão rodeado de lixo que flutua no rio Pasig, que já foi declarado biologicamente morto na década de 1990. “Não é um cenário projectado para um futuro negro. É a actualidade, o que se está a passar neste preciso momento”, contou ao P3 o fotojornalista por alturas da nomeação.
Além de Mário Cruz, outros dois fotógrafos foram premiados na categoria Ambiente em imagem single. A 11 de Abril, em Amesterdão, será anunciado o nome do vencedor, bem como dos segundo e terceiro lugares desta e de outras categorias, além da Foto do Ano.
Para o fotojornalista, esta imagem “é um apelo para que não se ignore o que não pode ser ignorado”. “Nós vemos imagens de praias com lixo no areal e ficamos incomodados, mas estas pessoas em Manila estão rodeadas de lixo diariamente, já há muitos anos, e isto merece a nossa reacção rápida”, afirmou, em declarações à Lusa aquando do anúncio da distinção.
Os habitantes daquelas comunidades tentaram, sem sucesso, ir viver para a capital das Filipinas, e acabaram por criar construções ilegais junto ao rio, onde vivem, sem saneamento, e muitos deles da reciclagem do lixo que é atirado fora. “É um problema que se arrastou, e está a agravar-se tomando dimensões preocupantes”, alertou o fotojornalista, acrescentando que viu estuários, criados para impedir as cheias, cheios de lixo. “Neste momento só se vê lixo. É dramático olhar para um canal de água e não ver a água, só plástico, e isso merece sem dúvida uma reacção”, reiterou.
Em 2016, Mário Cruz conquistou o primeiro lugar na categoria Temas Contemporâneos do World Press Photo, com um trabalho sobre a escravatura de crianças — dos meninos talibés — no Senegal (Talibés - Modern Days Slave"), que deu origem a um livro, depois de publicado na Newsweek, e que constituiu um alerta global. No Senegal, foram distribuídos panfletos com fotografias feitas por si, tendo sido resgatadas centenas de crianças.