Igualdade de género na escola: de que têm medo?
Porque os Direitos Humanos não se negoceiam, não se adiam e não são facultativos, a Cidadania nas escolas não é facultativa.
Na semana em que celebramos o Dia da Mulher, vale a pena relembrar por que foi introduzido o tema Igualdade de Género na área de Cidadania e Desenvolvimento para todos os alunos. As desigualdades entre homens e mulheres são ainda gritantes. A conciliação entre vida profissional, familiar e pessoal é muito mais difícil para as mulheres. A violência no namoro tem vido a aumentar. Continuam a morrer mulheres às mãos dos seus companheiros. Este não é um assunto delas. É um assunto de todos. Permito-me até dizer que é, em primeiro lugar, um assunto dos homens, porque os privilegiados têm maior facilidade em mudar o mundo e o dever de reconhecer o seu privilégio. Se é assunto de todos, é assunto da escola. É assunto das escolas onde ainda há raparigas que acham que é melhor um namoro violento a não ter namorado. Mas também onde estão jovens homossexuais ou transexuais cujos direitos são violados, porque são humilhados e têm de se esconder, com terríveis implicações para a sua felicidade e autoestima. É assunto das escolas, porque muitas têm sido pioneiras no desenvolvimento de projetos admiráveis nesta matéria, ensinando às crianças da educação pré-escolar que o pai não “ajuda”, o pai “faz”, ou contando a História da humanidade também pela voz dos discriminados. Para tantos, a escola tem sido o lugar onde se podem afirmar pela primeira vez, encontrando nos professores o apoio que não têm noutros.
Recebo cartas e algumas petições contra a inscrição do tema da Igualdade de Género no currículo. Curiosamente, não falam de Igualdade, mas sim de Ideologia de Género. Com argumentos bizarros, como a alegada imposição de uma cultura de morte, a anulação da biologia ou a destruição da família. Uma pesquisa bibliográfica simples no catálogo da Biblioteca Nacional não regista qualquer entrada sobre “Ideologia de Género”. Há, contudo, mais de uma centena de estudos com base científica sobre Igualdade de Género. Afinal, o que é a Ideologia de Género? É a agenda dos que têm medo de falar de Igualdade. E quem teme a igualdade, teme – lamentavelmente – que os Direitos Humanos cheguem a todos, preferindo a injustiça, o sofrimento escondido ou legitimando, com o silêncio, a humilhação e a discriminação. Valida pelo silêncio os comportamentos quotidianos aceites passivamente, porque sempre foi assim, sem ousar questionar uma normalidade que só é para alguns.
Porque os Direitos Humanos não se negoceiam, não se adiam e não são facultativos, a Cidadania nas escolas não é facultativa. A palavra ideologia foi transformada, por alguns, num insulto, na famosa imprecação “isso é ideologia”. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo 70.º aniversário celebramos, é todo um projeto ideológico. Ainda bem. E ainda bem que continuamos a lutar pelo seu cumprimento. Sem medo.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico