Arranca a primeira Lista Vermelha de Invertebrados de Portugal
Vai ser possível conhecer pela primeira vez o risco de extinção dos invertebrados terrestres e de água doce de Portugal Continental. De norte a sul do país, uma equipa com quase uma centena de investigadores vai visitar 200 locais para conhecer a distribuição destes pequenos insectos.
Começam este sábado os primeiros trabalhos de campo para a elaboração da primeira Lista Vermelha de Invertebrados Terrestres e de Água Doce de Portugal Continental. Este projecto pretende avaliar o risco de extinção destas pequenas espécies que povoam o nosso país e colmatar a falta de informação que existe sobre elas. De norte a sul do país, mais de uma centena de investigadores vão procurar descobrir e saber mais sobre insectos como borboletas, gafanhotos ou cigarras. Curiosos e admiradores são também convidados a participar através de seis sessões públicas organizadas durante as “missões” no terreno.
“Com este projecto pretende-se identificar precisamente as espécies mais vulneráveis de invertebrados, pretendendo-se que a lista vermelha seja um documento de referência para a definição de futuras estratégias e acções de conservação para todos os intervenientes na conservação da natureza no nosso país”, explica ao PÚBLICO Carla Rego, coordenadora executiva do projecto. A iniciativa conta com a participação da Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências e com a parceria do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
A equipa parte este sábado para a “costa sudoeste e barlavento algarvio” e segue tendo como último destino o Minho. Até Agosto deste ano, o projecto vai estudar os insectos dos Sítios de Importância Comunitária da Rede Natura 2000, tendo já assinalado 200 locais de amostragem entre o norte e o sul do país. Os trabalhos de campo têm uma duração de sete dias e cada um conta com uma equipa de quatro investigadores. Entre 9 de Março e 17 de Agosto vão ser realizadas 12 missões para conhecer estas espécies de invertebrados, o seu habitat e as ameaças a que estão expostos.
“O objectivo é avaliar 700 a 800 espécies”, nota Carla Rego. Por isso, esta lista vermelha não vai ser apenas formada por pequenos insectos. Os investigadores pretendem conhecer e avaliar o estado de conservação de outros grupos de invertebrados: aranhas, crustáceos de água doce, gastrópodes (como caracóis) e bivalves. Para isso os entomólogos vão recorrer a técnicas como a observação directa no solo ou debaixo de pedras, registos de som e até armadilhas coloridas para atrair abelhas e moscas e armadilhas luminosas para registar borboletas nocturnas.
“Muitas dessas espécies são muito raras e exclusivas do nosso país pelo que será importante avaliar qual o risco de extinção que apresentam pois a sua extinção significa que estarão extintas a nível mundial”, elucida a coordenadora executiva que é investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.
Durante o trabalho de campo os investigadores pretendem também sensibilizar para a importância de conhecer estas espécies e apelar à participação das comunidades na recolha de informação. Para isso, vão decorrer seis sessões abertas ao público para dar a conhecer o maravilhoso mundo destes insectos que podem chegar às 30.000 espécies. Já no dia 24 deste mês será realizada a primeira sessão aberta na Estação da Biodiversidade da Ribeira do Vascão, em Mértola. Seguem-se Grândola, Alcanena, Seia, Vinhais e Viana do Castelo.
De entre as espécies de invertebrados que vão pertencer à lista estão também incluídos as 11 espécies de insectos protegidos em território nacional pela Directiva Habitats. Os investigadores vão confirmar a disponibilidade e condições de habitat destas espécies ameaçadas, entre elas, o louva-a-deus-dos-olhos-pontiagudos (Apteromantis aptera), a borboleta aurinia (Euphydryas aurinia) ou o escaravelho vaca-loura (Lucanus cervus).
Este projecto vai incluir também uma plataforma digital de armazenamento e gestão de informação que pretende fornecer mais e novos conhecimentos sobre estas espécies e alertar para a necessidade de as proteger. “Pretende-se promover a sensibilização do público para a importância dos invertebrados e para a sua conservação no nosso país”, evidencia Carla Rego.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas