Imigrantes: o "exército gratuito" dos traficantes de seres humanos

Traficantes forçam migrantes a assumir o leme dos barcos. Muitos acabam presos por imigração ilegal, revela o The Guardian.

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STEFANO RELLANDINI

Com uma arma apontada à cabeça e a vida nas mãos daqueles que lucram com o tráfico humano, os imigrantes aceitam pegar no leme dos barcos que os levam à Europa. Se forem detectados pelas autoridades, podem ser presos durante meses, por vezes anos.

Em entrevista ao The Guardian, Mouhamed Cherif Sane, vítima do sistema dos contrabandistas, conta a aventura que foi chegar a Itália no dia 31 de Julho de 2016. Mouhamed fazia parte de uma tripulação de 129 passageiros que se dirigia aos mares italianos à procura de uma vida melhor. Os traficantes da Líbia, a sua terra natal, apontaram-lhe uma arma à cabeça e obrigaram-no a conduzir o barco. Mas, à chegada, foi o único que não foi para um abrigo: prenderam-no por imigração ilegal.

“Os traficantes dos dias de hoje podem contar com um exército gratuito: os imigrantes. Forçam quase sempre os imigrantes a conduzir os barcos, muitas vezes com o uso de armas. Eles estão assustados”, relata ao jornal britânico um juiz do tribunal de Palermo, Gigi Omar Modica.

Quando algum barco de borracha entra em águas nacionais, a polícia marítima é obrigada a verificar e identificar o responsável pela entrada de imigrantes ilegais no país.

De acordo com fontes oficiais, Itália já prendeu mais de 1.500 condutores de barcos com imigrantes desde 2013. Centenas estão presos — esta terça-feira houve quatro detenções, em Lampedusa. São acusados de ajudar imigrantes ilegais, arriscam-se a penas até 15 anos de prisão. Mas muitos são, na verdade, pessoas à procura de asilo, vítimas dos traficantes.

Editado por Pedro Rios

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