De acordo com os dados revelados recentemente pelo INE, a taxa de desemprego estabilizou, em Junho, no valor mais baixo dos últimos 16 anos. Isto é, claro está, uma boa notícia, sobretudo se nos lembrarmos dos valores inconcebíveis dos tempos de crise. Infelizmente, as boas notícias acabam aqui, porque o mesmo não se pode dizer em relação ao desemprego jovem cuja taxa se situa ainda nos 20,3%, tendo até aumentado em relação ao mês anterior. Esta notícia parece ter ficado escondida por outras, mas é importante discuti-la, atendendo ao que nos dá a conhecer sobre a vida dos jovens em Portugal.
Os partidos que constituem a coligação parlamentar que apoia o Governo não têm qualquer pejo em exibir o gráfico da taxa de desemprego que se fixou nos 6,7% para mostrar que tiraram o país da austeridade e da depressão. Ao mesmo tempo, a direita reclama para si os louros desta descida. O que ninguém quer perfilhar é o desemprego jovem e o que isso significa: a falta de futuro para quem representa o futuro. Não adianta fingir que o problema não existe. Em Janeiro, tínhamos a terceira taxa mais elevada da União Europeia, só ultrapassados por Espanha e Itália, e estávamos muito acima da média europeia.
O desemprego em geral e, por consequência, o desemprego jovem, desceram devido à recuperação que a economia viveu, não só em Portugal, mas no resto da Europa. Porém, após essa retoma, o problema da falta de espaço para os jovens no mercado de trabalho manteve-se. As causas deste mal crónico são várias. A desadequação entre a formação e as necessidades do mercado é, talvez, a que se destaca. Para além disso, é muitas vezes exigida experiência a quem, por razões óbvias, não a pode ter. A alteração dos estágios patrocinados pelo Estado já foi também apontada como uma das causas para o aumento do desemprego jovem. É preciso olhar para lá dos números que ficam bem em época eleitoral, porque não chega criar estímulos à contratação. Só resolvendo a questão a montante, na preparação dos jovens para o mercado de trabalho, se soluciona definitivamente o problema.
Quando há emprego, há outro problema que subsiste: os baixos salários. Salvo raras excepções, quem entra no mercado de trabalho tem mais custos associados à prestação da sua actividade profissional, como o transporte e, em muitos casos, a habitação, do que benefícios salariais. Isto significa que existe no mercado de trabalho um paradoxo que se tem revelado difícil de superar: a jovens qualificados que gastaram verdadeiras fortunas para obter essa formação as empresas apenas acenam com emprego mal pago, apesar de exigirem as tais qualificações dispendiosas.
Perante isto, a proposta de conceder um incentivo fiscal aos emigrantes recentes que regressem torna-se ainda mais risível. Sinceramente, emigrar continua a ser muitas vezes o único caminho para um jovem a quem é oferecido ou um baixo salário ou o desemprego, quase sempre aliados à insanidade do mercado de habitação de que já aqui falei. Confrontados com a falta de trabalho ou de condições de trabalho, deduzem que pouco ou nada se alterou no país e que é difícil, senão impossível, construir o futuro em Portugal. No fundo, não podemos senão concluir que o Governo fez o raciocínio ao contrário e não se apercebeu disso. Antes de tomar medidas à toa para que os emigrantes regressem, é preciso perceber porque é que eles saem e evitar que tenham razões e necessidade de o fazer.