Trump encena o mundo perfeito de Putin
Mais uma aparição europeia do Presidente americano que confirma que os EUA já não são um aliado da Europa nem da democracia liberal. É tempo de arrepiar caminho.
O Presidente americano foi igual a si mesmo na cimeira da NATO: disruptivo, disfuncional, ameaçador, demagogo. Na verdade, Donald Trump parece nem sequer entender como funciona a organização, repetindo mentira atrás de mentira e revelando um épico desconhecimento histórico que só envergonha os americanos. O problema é de fundo: Trump não entende a lógica das alianças estratégicas nem acredita em aliados. Para o Presidente americano uma aliança implica a exploração de um ou vários dos seus membros e a estabilidade é coisa incómoda, pelo que uma parceria mutuamente benéfica está excluída da sua mundividência.
Não há lógica nas suas atitudes porque, na verdade, o homem não se gere por princípios de racionalidade. Quando Trump diz a Macron que o melhor seria que a França abandonasse a União Europeia e lhe promete em troca um acordo comercial mais vantajoso com os EUA, está a tentar a mesma forma de relacionamento directo que tentou com Kim Jong-Un. Quando ataca Merkel pelas suas relações comerciais com a Rússia, está a tentar desestabilizar a imagem global de um aliado de forma a lucrar com a agitação. É a lógica do “quanto pior, melhor” aplicada a nível global.
Todos os líderes ocidentais desviam o olhar e assobiam para o lado enquanto esperam que o mandato de Trump termine. Esta pode ser a única atitude possível a curto prazo, mas é a abordagem errada. Em vez disso, seria melhor perceberem que a dependência dos Estados Unidos é algo que tem mesmo de terminar, seja na égide da defesa ou na persecução de valores comuns. Os EUA já não são um parceiro fiável dado o extremismo do seu clima político, que condiciona qualquer acordo de longo prazo e funciona como uma permanente ameaça com impacto potencialmente global.
E há aqui um outro enquadramento grave. É que se Vladimir Putin tivesse sonhado com uma nova ordem mundial, dificilmente seria diferente disto: uns Estados Unidos isolacionistas, a NATO e a União Europeia em risco de dissolução e os acordos de comércio livre em cacos. Acrescente-se a isto a rédea solta que os russos têm na Síria e a facilidade como que espalham os seus exércitos de hackers, para que este seja o melhor mundo possível para o Kremlin. A questão passa então a ser porque é que este é também um mundo interessante para Donald Trump.