Competências dos jovens: para quem?

Dizem-nos que temos de ser dinâmicos, pró-activos, empreendedores e irrepreensíveis em tudo o que fazemos, mas para quem são estas competências? Para nós ou para um sistema que nos suga?

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Kelly Sikkema/Unsplash

Esta semana, a 15 de Julho, celebra-se o Dia Mundial das Competências dos Jovens, implementado pela ONU. A UNESCO, uma das agências especializadas deste organismo, lembra-nos que a criação de competências, através da educação, “não se trata apenas de assegurar que todas as crianças vão à escola. Trata-se de preparar os jovens para a vida, proporcionando-lhes oportunidades para encontrar um emprego decente, ganhar um salário, contribuir para as suas comunidades e sociedades e realizar o seu potencial”, tentando sempre a cooperação com os governos dos vários países e instituições que possam intervir.

Mesmo que partíssemos do princípio de que todos/as os/as jovens portugueses/as têm garantido o acesso às tais competências – através da escola, formação profissional ou académica – o que (de todo) não acontece, já que a desigualdade financeira é elevada e nem sempre há respostas sociais adequadas, sabemos também que há dois "eixos-problema": o primeiro é a falta de formação humana e o segundo a falta de aplicabilidade das competências.

O primeiro “eixo-problema” — a falta de formação humana — está presente em muitas das áreas do saber e é a prova de que há uma agressiva tendência em querer formar-se quadros técnicos bons, mas humanamente mal preparados. Vejamos o caso das profissões em que a saída profissional maior é a interacção com pessoas com vista à resolução de problemas e... Surpresa, não há preparação para tal. Há um conjunto de competências técnicas, dificílimas, mas que só valem quando há interacção com outras competências: as empáticas, sociais. Formamos, portanto, quadros capazes de localizar problemas que podem ir das leis, à saúde, ou à educação, mas sem entender que aquela pessoa, ser racional mas também emocional, precisa de saber “calçar os sapatos” do outro, sem os quais não vai saber caminhar num sentido comum.

O segundo “eixo-problema”, a falta de aplicabilidade de competências, resume-se – numa forma muito simplista – a coisas simples como: o que vou fazer com um curso?

Ao longo da minha vida fui ouvindo “e o que vais fazer com isso?”, direccionado a mim ou a outras pessoas. Realmente é uma pergunta legítima, sobretudo quando são pessoas que gostam de nós e primam pelo nosso bem-estar, mas impossível de se responder com muita certeza. Se, por um lado, temos cada vez formações (do ponto de vista técnico) multifacetadas e abrangentes, por outro, o mercado laboral não está a mudar ao mesmo ritmo.

Temos, portanto, uma espécie de inadaptação entre a criação e a aplicação de competências, por força do elevado desemprego em quadros especializados. Na voz e nas palavras das escolas/institutos/faculdades, somos especialistas em quase tudo. Na voz e nas palavras dos empregadores, em quase nada. Falta que as empresas e as entidades de formação e ensino decidam abrir mão do seu ego monopolizador de competências e entendam que, com um compromisso entre a teoria e a prática, podem beneficiar todos: os jovens que querem estabilidade, as empresas que querem crescimento e as instituições de ensino/formação que querem estudantes.

Agora, questiono: se tivermos formação com enquadramento mais humano, com competências transversais aos ramos teóricos, mas também práticos, não estamos a promover a criação de competências essenciais para que cada jovem possa contribuir para as suas comunidades e sociedades e realizar o seu potencial, como era suposto?

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