Impostos anti-globalização
A propagação de ideias populistas de cariz nacionalista está a chegar ao comércio e vai perturbar a economia mundial.
A guerra ideológica contra a globalização entrou numa nova fase, graças à imposição de taxas alfandegárias pela administração americana que estão desenhadas para atacar em primeiro lugar a China. Não é só no Partido Republicano, cuja prática está a ser redesenhada pelo executivo Trump, que se verifica o abandono do comércio livre e o início de um proteccionismo económico surpreendente.
E já há sinais muito concretos de que o conflito já não é meramente comercial. Washington já começou a limitar a emissão de vistos para estudantes chineses e ameaça limitar o alcance dos investimentos estrangeiros – algo que Bruxelas também começa a ponderar com mais atenção. A regressão da globalização é palpável em questões como o combate ao aquecimento global, a perda de relevância de instituições multilaterais como as Nações Unidas e na discussão sobre o futuro de entidades como a NATO. A insistência em soluções bilaterais como o risível acordo entre os EUA e a Coreia do Norte também são um sinal disto, tal como a desistência da procura por soluções, de que o maior exemplo será o bloqueio na resolução do problema israelo-palestiniano.
Neste cenário de reconversão multilateral a única hipótese de Portugal não se afundar numa crise histórica é a União Europeia. Só um bloco europeu coeso e bem sucedido serve a um país que se distingue por muito pouco no sector produtivo, cada vez mais dependente dos serviços e dependente de componentes externos para as exportações. Por isso o Brexit e os restantes projetos nacional-populistas na Europa (com a Polónia e a Hungria à cabeça) são o caminho errado neste momento, representando uma solução passadista para um problema de futuro. A manutenção do bloco europeu representa a única hipótese das nações que a constituem terem uma voz no comércio global.
E todo o cenário do poder global está a mudar, pois a primazia da nova ordem mundial será decidida nos laboratórios de alta tecnologia. O plano conhecido como Made in China 2025 é o melhor exemplo disto: Beijing definiu que será líder absoluta das tecnologias determinantes para o futuro (onde se inclui a robótica, a inteligência artificial, a biotecnologia, a energia limpa, etc.). Não está a olhar a meios para o conseguir e é precisamente este programa que está a deixar Washington e Bruxelas num estado de nervoso miudinho que se vai revelando na primazia dada à ciência no próximo orçamento da UE e nesta nova política americana. A guerra comercial ainda mal começou.