E se o ministro fosse a exame?
Hoje é dia de exames nacionais para milhares de alunos. Mas também há um ministro que tem de ir a exame.
Parece menos um ministério da Educação, mais um ministério da Desorientação. Hoje é dia de exames nacionais, mas há um ministro que, pela matéria dos últimos meses, também já precisa de ir a teste. Porque não lhe faltam os problemas.
Primeiro, nas progressões, que foi onde acabou a paz e começou a luta. Brandão Rodrigues começou a negociar em Novembro e na altura fez-lhes uma promessa: “Têm a minha palavra de que lutarei radicalmente pelos direitos dos professores.” Percebia-se logo que a luta do ministro era dentro do Governo, com Mário Centeno. De então para cá, calou-se oito meses. E quando voltou foi para dizer que não negociava mais. Pelo meio ficou um “equívoco” consciente, na letra do Orçamento; um acordo na mesma medida, feito para ganhar tempo; e o apoio do PS a uma resolução que pedia a contagem “integral” do tempo de carreira que esteve congelado.
Também nos concursos. Porque o ministério fez como quis, mas não negociou. Porque viu professores a ir para tribunal e os deputados a anular as suas ordens. Porque decidiu ir para o Constitucional, abrindo um braço-de-ferro com todos — e empurrando 90 mil para novas candidaturas.
Nos currículos, nos quais o ministro voltou a mexer nas bases do sistema, sem procurar um acordo que lhe dê solidez maior do que a desta legislatura.
Nas matrículas, em que o ministério quis (e bem) resolver as falsas inscrições, mas não previu os casos de alunos a cargo dos avós.
Na fiscalização dos exames, em que Brandão Rodrigues decidiu não adoptar novas regras ou um reforço de fiscalização para evitar novas fraudes nos exames — sabendo ele o que se passou há um ano.
Na própria realização dos exames, em que o Governo entrou em conflito aberto com as próprias direcções das escolas, tentando contornar uma greve com uma ordem de legalidade duvidosa, contra um sindicato que só agora apareceu.
Em dia de exames há, assim, pelo menos seis problemas que se devem colocar a Tiago Brandão Rodrigues. Na certeza de que nós, os avaliadores do serviço público (alunos, pais, professores, cidadãos), há muito não chegávamos ao final de um ano escolar com tanto confronto social, com tão elevado grau de incerteza sobre o que vem a seguir.
Sim, o caos voltou à Educação. Resta saber se Tiago Brandão Rodrigues sabe o caminho para sair dele — sem o apoio dos professores, sem ter uma maioria, sem peso político dentro da sala do Conselho de Ministros. Passará no exame?