Hugo Marques está ligado ao mundo do design há já 20 anos — e, talvez por ser tão apaixonado pelo que faz, foi o escolhido para fazer o rótulo para a Afamia, a primeira cerveja nacional da Síria. "O convite foi muito simples: tenho o meu portefólio online e eles encontraram-me através da plataforma Behance", contou Hugo ao P3.
O português, natural de Viseu, teve de fazer uma pesquisa sobre a cultura e a tradição do país para que pudesse cumprir um dos pedidos da empresa, já que "era essencial que a imagem da cerveja tivesse ligação à cultura e à história da Síria". Por isso, inspirou-se em caixas em madeira. "Como nós cá temos os azulejos portugueses, eles têm umas caixas trabalhadas em madeira, muito tradicionais e antigas na Síria", explicou.
A caixa serviu então como mote para a criação do rótulo: foi adaptada a um padrão de fundo, evidenciando assim uma ligação à cultura síria. Por outro lado, Hugo acrescentou uma faixa central que representa as faixas que "normalmente são colocadas em indivíduos pelo mérito de alcançar algo". Neste caso para representar a determinação e o mérito da empresa ao erguer-se a partir da destruição causada pela guerra civil que atormenta a Síria há quase sete anos. Afamia, o nome escolhido é uma espécie de homenagem à cidade. As cores usadas — azul e vermelho com dourado — dão "um aspecto mais premium ao design".
Mas a empresa, revelou o português, é muito mais do que uma marca de cerveja: "Há uma vertente de responsabilidade social muito grande." Foi criada com o objectivo de recuperar património destruído e "vai criar postos de trabalho e dinamizar, em termos comerciais, o espaço onde eles estão". Por este motivo, o designer decidiu abdicar do pagamento que iria receber. Fez o que achou "mais correcto" e entregou os honorários à Basma, uma associação síria que apoia crianças com cancro. "A doação foi a oportunidade para dar uma pequena ajuda ao sofrimento de tantas pessoas."
Este não foi o primeiro trabalho do português para marcas de cerveja. À Afamia juntam-se nomes como a Vadia ou a Maldita — e muitos outros rótulos para cervejas artesanais. "Trabalhei com quase todas as grandes marcas de cerveja e agora estou focado no mercado das bebidas espirituosas. Estou a fazer gins e vinho", confessa. Tudo isto é possível graças ao estúdio que Hugo abriu em Aveiro, o Think Bold Studio. Foi enquanto trabalhava na Noruega que decidiu ser tempo de voltar para Portugal e começar o próprio negócio. "Foi a melhor decisão que podia ter tomado", admitiu. "Todos os dias fico contente por ter regressado."