Hezbollah e o Irão são os vencedores esperados das eleições
Qualquer que seja o resultado, é provável que seja formada outra coligação governamental liderada pelo primeiro-ministro Saad al-Hariri e que inclua a maioria dos principais partidos.
O grupo xiita Hezbollah e os seus aliados devem sair reforçados das eleições deste domingo no Líbano. Este resultado reafirmará a ascendência do Irão como potência regional, embora o primeiro-ministro deva continuar a ser o sunita Saad al-Hariri, à frente de um governo de coligação.
São as primeiras eleições gerais em nove anos e os eleitores fizeram fila nas estações de voto por todo o Líbano para participar. Carros e ciclomotores saíram à rua enfeitados com as bandeiras dos principais partidos, altifalantes com músicas em apoio a candidatos nas suas fortalezas eleitorais e os jovens usavam t-shirts com os rostos dos líderes políticos.
As eleições realizam-se sob um complicado novo sistema proporcional que tornou a corrida imprevisível. Assentos parlamentares que antes eram considerados seguros estão em disputa. Mas está preservado o sistema sectário de partilha de poder do país.
Seja qual for o resultado, os analistas prevêem a formação de outra coligação governamental com a maioria dos principais partidos, à semelhança do actual executivo, que governa o país desde 2016.
Colocar rapidamente o novo Governo em funções é importante para reassegurar aos investidores a estabilidade económica do Líbano. “Esperamos abrir uma nova era”, disse Mahmoud Daouk, eleitor em Beirute.
Mas outros eleitores estão cépticos de que as eleições signifiquem uma melhoria do clima político no Líbano. “A situação até está pior agora, não melhor. Perdemos a oportunidade de os responsabilizar há nove anos”, disse a farmacêutica Fatima Kibbi, de 33 anos.
Em alguns locais as filas eram tão grandes que as pessoas tiveram de esperar mais de uma hora, o que motivou apelos para atrasar o encerramento das urnas.
Esperam-se resultados resultados preliminares durante a madrugada e dados oficiais nos próximos dias.
Os analistas estão particularmente atentos ao desempenho do partido do primeiro-ministro Saad al-Hariri, o Movimento Futuro (sunita), e ao do grupo xiita apoiado pelo Irão, Hezbollah.
O Irão e a Arábia Saudita esforçaram-se muitas vezes para aumentarem a sua influência no Líbano. Mas, nos últimos anos Riad cortou o apoio a Hariri - que tentou forçar a demitir-se, num estranho episódio de rapto. O apoio saudita tinha permitido a Hariri, em 2009, formar uma coligação governamental que tentou desarmar o Hezbollah.
Falhado este objectivo, o tema foi discretamente colocado em segundo plano numa altura em que os principais partidos se centraram na recuperação económica e na crise de refugiados provocada pela guerra na Síria.
Presença da segurança
Depois das últimas eleições em 2009, o início da guerra civil síria, a chegada de mais de um milhão de refugiados e uma série de ataques terroristas agravaram as divergências políticas internas.
Os blocos rivais no Parlamento não conseguiram chegar a acordo para um novo Presidente entre 2014 e 2016 e adiaram repetidamente a marcação de eleições, em parte devido ao desacordo em relação à passagem para um sistema de voto proporcional.
É improvável que as novas regras desestabilizem a elite política há muito estabelecida, um grupo que inclui dinastias locais e antigos senhores da guerra.
Mustapha Muzawwaq, de 65 anos, estava sentido com vizinhos na rua. “Nós queremos que esta situação fique como está. Pelo menos conhecemos os actuais deputados”.
Nas eleições muncipais há dois anos, os candidatos independentes tiveram uma boa prestação frente aos partidos politicos estabelecidos ao aproveitar a insastifação em relação aos deficitários serviços públicos, incluindo uma crise que provocou um amontado de lixo deixado nas ruas.
Os assentos parlamentares estão dividios igualmente entre muçulmanos e cristãos e subdividos entre as suas várias seitas. O Presidente libanês tem de ser sempre cristão maronita, o primeiro-ministro muçulmano sunita e o líder do Parlamento xiita.
Apesar de alguns registos de violência e intimidação ligados às eleições nas últimas semanas, não foram relatados nenhuns incidentes graves nas primeiras horas de votação.
Apesar disso, houve uma forte presença de segurança em Beirut no domingo e a testemunhas da Reuters viram uma longa coluna militar a passar na capital. As forças de segurança colocaram vigilantes nas esquinas das ruas e junto aos locais de voto.
A monitorizar a votação estão observadores da União Europeia e de outras instituições internacionais. Elena Valenciano, que lidera a equipa da União Europeia, afirmou no Twitter que a avaliação das eleições é “muito positiva”.
Abu Sami, de 40 anos, funcionário público, afirmou que está cansado dos políticos do establishment. “Hoje vou escolher caras novas”.