O título que reabre a porta de saída (em grande) a Pinto da Costa
Aos 80 anos de idade o líder dos portistas coloca um ponto final ao mais longo período sem troféus desde que assumiu a presidência do FC Porto
Foram quase cinco anos sem títulos. Muito tempo, em especial para um clube como o FC Porto, pródigo em conquistas. E foi quase uma eternidade para Pinto da Costa, o principal responsável por essa habituação. Agora, com o seu 21.º título de campeão nacional (o 28.º dos “dragões”) nas mãos, Pinto da Costa volta a ter condições para poder sair da presidência do clube que lidera há 36 anos pela porta grande.
Quando, em Agosto de 2013, Pinto da Costa festejou a conquista de mais uma Supertaça pelo FC Porto, após derrotar o Vitória de Guimarães por 3-0, certamente, não esperaria ter que suportar um jejum tão longo como o que viveu até hoje. Aliás, na festa do seu 70.º aniversário, o líder dos “azuis-brancos” já tinha desabafado: "Tudo tem um limite e acho que ninguém tem o direito de me pedir para continuar mais tempo."
Mas só cinco treinadores falhados (Paulo Fonseca, Luís Castro, Julen Lopetegui, José Peseiro e Nuno Espírito Santo) e um tetracampeonato do Benfica depois, é que Pinto da Costa volta a viver um cenário que lhe permite deixar a cadeira do poder como, certamente pretenderá: a ganhar.
Com 80 anos de idade e a cumprir o seu 14.º mandato como presidente do FC Porto, é inevitável que Pinto da Costa pondere sobre a sua continuidade à frente de um clube que lhe deve imenso. Se há dez anos já o fazia… Mas o capital de confiança e de gratidão dos portistas para com o seu presidente é tão grande que ninguém ousará apontar-lhe a porta de saída. Assim, terá que ser o próprio Pinto da Costa a determinar qual o momento mais indicado para abdicar.
Nos últimos cinco anos essa oportunidade, pura e simplesmente não existiu. Nem os dois internamentos de urgência que sofreu levaram Pinto da Costa a vacilar. As cinco apostas falhadas em treinadores, alguns deles escolhas pessoais do presidente portista – casos de Paulo Fonseca e Julen Lopetegui – fizeram com que o homem forte do Dragão não tenha sentido condições para abrir a porta e sair.
Mas não foi só isso. A luta interna que, a partir de determinado momento se começou a viver no Dragão, entre Alexandre Pinto da Costa e Antero Henrique, tornou indispensável a mediação de Pinto da Costa, pai de Alexandre. E demorou até que esta tensão desaparecesse, só se dissipando definitivamente quando Antero Henrique saiu do clube, rumando ao PSG.
Arrumada a casa, o líder portista recorreu ainda a uma velha estratégia que durante anos deu resultados para tentar colocar um ponto final na hegemonia benfiquista. Procurar aliados. E encontrou um em Alvalade. Os primeiros sinais de entendimento surgiram ainda na temporada passada, quando os responsáveis pela área da comunicação de FC Porto e Sporting se encontraram.
A partir daí, os “dragões” passaram a contar com uma espécie de guarda avançada, em Lisboa, que ampliava a linha de ataque ao adversário que era imperioso derrubar.
Os resultados estão à vista. Pinto da Costa foi capaz de interromper o domínio “encarnado” e recuperar a liderança. Tudo isto com mais uma aposta sua, de risco, para o cargo de treinador. Se Sérgio Conceição não tivesse funcionado no Dragão, Pinto da Costa não sairia incólume do falhanço e teria visto certamente muitos a lembrá-lo que… já tem 80 anos.
Com o “universo futebolístico português” a funcionar, novamente, de acordo com a sua ordem natural, na perspectiva “azul-e-branca”, talvez só um detalhe ainda impeça Pinto da Costa de aproveitar o momento para sair pela porta grande. É que o FC Porto continua sob o escrutínio da UEFA, por não cumprir com os critérios do fair play financeiro. Mas até este obstáculo está em vias de ser ultrapassado com os milhões que vão entrar no Dragão graças ao acesso directo à próxima edição da Liga dos Campeões.