Porque “não está tudo feito”, elas criaram o primeiro grupo feminista da Academia do Porto
O primeiro colectivo feminista da Academia do Porto nasceu na Faculdade de Letras, pelas mãos de quatro estudantes. Saem à rua no 1.º de Maio Feminista para consciencializar os estudantes (e não só) acerca do que é o feminismo e a sua luta.
Foi depois de conhecerem algumas colegas brasileiras a estudar na cidade que quatro alunas da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) decidiram criar o primeiro Colectivo Feminista da Academia portuense. E sim, foi preciso um impulso vindo do outro lado do Atlântico para isto acontecer. Por ter ficado a saber que “a maioria das faculdades [brasileiras] têm colectivos feministas, que são um factor de união muito grande”, Carolina Alves, uma das fundadoras, conta ao PÚBLICO que ela e as colegas rapidamente pensaram em importar um projecto que apenas estava pensado na teoria. E isto com o propósito de “criar um espaço de discussão, reflexão e debate sobre as questões do feminismo e da mulher”. Mas continua a ser importante falar sobre feminismo?
Catarina Figueiredo, co-fundadora do Colectivo Feminista de Letras, garante que sim. “A palavra feminismo começou a ser mais utilizada e tem estado na agenda política e mundial dos últimos tempos”, refere. “Mas, ao mesmo tempo, continua a existir um preconceito muito grande com a palavra, uma vez que as pessoas acham que feminismo é odiar homens ou uma coisa do género”, sublinha.
E a verdade é que parece existir uma confusão entre feminismo e igualdade de género. “É a mesma coisa”, explica a estudante de Sociologia. E, por isso mesmo, considera importante promover as ideias que o colectivo defende. “A maior parte das pessoas acha que não é preciso [fazer nada]”, pensa “que já está tudo feito”. Mas não está.
Querendo agrupar tanto a vertente da consciencialização como a da acção, o Colectivo Feminista de Letras já dinamizou, participou e está mesmo em fase de planeamento de novos eventos. O mais recente é o 1.º de Maio Feminista, marcado para esta terça-fera, 1 de Maio, às 15 horas, diante da Câmara Municipal do Porto. Com objectivo de juntar trabalhadores precários e não sindicalizados e de lutar contra a desigualdade entre mulheres e homens, racismo, discriminação de pessoas migrantes, trabalho sexual, assédio e outras problemáticas associadas, o grupo quer dinamizar todo o tipos de acções consideradas “úteis para as pessoas”, como refere Carolina Alves. E isto com o propósito de consciencializar os estudantes (e não só) acerca do que é, na realidade, o feminismo e a sua luta.
Desde o lançamento da página de Facebook, em Fevereiro último, que têm sentido uma grande adesão. “Com a página lançámos também a primeira reunião aberta, para quem quisesse conhecer o colectivo, as nossas ideias e para ver se [os estudantes] quereriam fazer parte ou não”, conta a também aluna de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. Logo nessa actividade conseguiram reunir um grande número de participantes.
“Depois disso, já passámos um filme, Suffragette, de 2015, e com ele fizemos também uma sessão de discussão e debate, sobre o que representava.” Conversaram, ainda, sobre género e participaram nas celebrações do 25 de Abril — sim, porque sair à rua também faz parte.
Catarina Figueiredo diz ao P3 que o objectivo “não é organizar apenas debates formais ou conversas", mas também apostar numa "presença activa em manifestações e movimentos sociais”. Toda a gente pode participar — tanto na “acção” como na “consciencialização” —, mas apenas os estudantes de Letras poderão integrar o colectivo, uma vez que só operam nesse universo.
Sem apoio financeiro da faculdade ou da universidade — por ter sido criado após o fecho do orçamento para projectos —, o grupo de estudantes tem contado, contudo, com o apoio logístico e a divulgação da Associação de Estudantes, explica Carolina. Mas, mesmo assim, decidiram criar "um grupo de estudantes para estudantes, como há tantos outros de temas tão diferentes". "É um espaço de discussão e debate para que as pessoas pensem nos assunto — e um colectivo feminista serve esse mesmo propósito.”
Texto editado por Ana Maria Henriques
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