Uma voz doce, um timbre suave, falado de forma sussurrada, entrecortado timidamente por sorrisos. É Castello-Branco. É o apelido e nome artístico do músico brasileiro, mas, na verdade, é apenas por “Castello” que habitualmente o tratam. “Lucas é só para a família”, di-lo quase com medo de ferir susceptibilidades num país e numa cidade que já sente como a sua casa.
“[O Porto] não deixa de ser uma cidade com ar de cidade grande, mas está muito preservada. A alimentação, o clima e as pessoas acalmam-me. Eu também estou em São Paulo, que é uma doideira infinita, mas chego a Lisboa e fico um pouquinho incomodado [com o turismo], para falar a verdade. Porque é isso, o meu coração já é do Porto.” Um coração arrebatado, independentemente do Porto não fazer parte do roteiro da digressão europeia deste que já inscreveu o nome na nova música popular brasileira (MPB).
A digressão do artista nascido no Rio de Janeiro inclui oito concertos em Portugal: já passou por Constância (“Eita cidade linda”, revela numa publicação na sua conta de Facebook) e Mação. Esta terça-feira, 24 de Abril, toma o Theatro Circo, em Braga, depois parte para o Salão Brazil, em Coimbra (26), Fábrica de Ideias, na Gafanha-da-Nazaré (27), Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima (30).
“É muito interessante fazer o interior de Portugal porque sinto uma energia, uma frequência muito específica, diferente dos outros lugares onde já toquei no mundo. E ainda falam a minha língua, não? De uma certa forma entende o que eu estou cantando. Não é como se eu estivesse noutro país muito distante. É muito preservado, muito interior. E eu sou do interior, conecto-me muito”, explica o cantor criado num mosteiro, em Teresópolis, e de onde parece ter recebido como educação toda a paz do mundo.
O regresso a Portugal faz-se cinco anos depois de uma estreia com a apresentação de Serviço, no qual surgiu apenas acompanhado pelo “violão”. Desta vez, com Sintoma, sobe aos palcos na companhia dos “meninos com quem mora junto em São Paulo”: Ico dos Anjos (flauta transversal, piano, sintetizador e programação) e Thiago Trindade (baixo).
O objectivo é apresentar o segundo álbum de originais — “Foi uma portuguesa, do Porto, quem fez a capa” —, “que tem um pouco de tudo". "Fica um pouco na melancolia, porque é afinal sobre querer trazer um entendimento sobre o amor e a vivência e isso soa um pouco melancólico e angustiante, mas tem também felicidade e prazer nisso.” Contudo, o alinhamento dos novos espectáculos contempla também temas do trabalho anterior, classificado pela crítica como um dos melhores discos brasileiros de 2013.
São também de destacar os mais de 500 mil downloads efectuados para escutar as canções de Castello-Branco, que, nesta passagem por Portugal, fez questão de tornar possível que os espectadores levem o disco para casa. “Vai. Agora vai. Porque fizemos uma versão europeia. Não tem no Brasil, mas tem aqui. Aqui está prensado o disco”, revela. “Desde sempre optei por ter uma relação e não simplesmente vir a Portugal só como um trabalho. E eu acho que essa semente fez com que as coisas aos poucos se tornassem mais sólidas, mas de uma forma mais honesta e verdadeira, e não como uma coisa de 'pagar e fazer, pagar e fazer'. Acaba por virar um trabalho, mas a gente está fazendo as coisas pensando no agora e com muito amor e acho que tem funcionado.”
Em Maio, as sementes de Castello-Branco são também lançadas no Musicbox, em Lisboa (3), e no Auditório de Espinho (4), seguindo depois para Espanha e Suíça.
Encerrada a digressão, Castello-Branco admite fixar residência nesta parte do mundo. Mas há algo mais na mira do brasileiro: “Estou à espera dos festivais de Verão. De resto está tudo perfeito, estou amando fazer o interior, os teatros, estou amando as pessoas.”
A fórmula para prosseguir nesta caminhada passa por tocar, mas sobretudo tocar a alma de quem o ouve. “E toca, de alguma forma. Eu acho que é a música que vai levando as pessoas e a gente só vai servindo, mesmo. Há aí um monte de gente que se sente parte disso. Eu vou dando e a gente vai indo junto.”