PS, o inconformismo progressista
Somos realistas. Não vendemos sonhos que destruam o futuro em nome de um presente ilusório.
O PS é filho do inconformismo. Quando Mário Soares, Tito de Morais e Ramos da Costa o fundaram com umas dezenas de homens e mulheres que lutavam contra a ditadura, a democracia era ainda uma razão para lutar e não uma oportunidade da qual se usufruía.
Desde sempre o PS é um espaço de encontro de tradições políticas distintas mas unidas pela vontade de mudar, pela busca de liberdade individual, do progresso e da solidariedade.
Temos orgulho do nosso papel na construção do Estado de direito social e democrático que Portugal é hoje. Essa é uma obra conjunta dos eleitores que confiaram em nós, dos simpatizantes e militantes, dos que exerceram funções públicas, dos que intervieram no movimento associativo, sindical e na sociedade civil, dos dirigentes e de todos os líderes do partido.
O socialismo democrático é um projeto em reinvenção permanente, em que tudo muda menos os valores fundamentais.
Vivemos hoje tempos sob a ameaça da fragmentação e da desilusão no projeto europeu com o surgimento de correntes autoritárias. O Partido Socialista português está na dianteira da defesa do ideal da esquerda progressista europeísta e da liberdade.
O nosso sucesso com a igualdade é muito menor do que com a liberdade. O combate às desigualdades é a mais importante de entre as nossas causas imediatas. Nos próximos anos, estará em causa a nossa capacidade para melhorar o nível de vida das pessoas com mais baixos rendimentos, uma batalha a vencer nos salários, na negociação colectiva, na fiscalidade, nas prestações sociais, no acesso aos serviços públicos.
Somos realistas. Não vendemos sonhos que destruam o futuro em nome de um presente ilusório. Por isso defendemos uma gestão orçamental prudente. Mas sabemos o que queremos: um país onde os recursos sejam melhor distribuídos que hoje.
Acreditamos na força da solidariedade, no Estado como força corretora das desigualdades e como força de apoio à busca de soluções coletivas para velhos e novos problemas sociais. Organizámo-nos no passado, com sucesso, para combater a pobreza dos idosos e os atrasos na educação e na saúde. Temos de continuar e agora responder às necessidades geradas pelo envelhecimento, nos cuidados permanentes e no apoio às famílias cuidadoras. E temos de inverter urgentemente a vulnerabilidade à pobreza das famílias jovens com filhos, que gera o fenómeno inaceitável da pobreza infantil.
O fenómeno das alterações climáticas afetar-nos-á a vários níveis, da escassez da água à vulnerabilidade a fenómenos climatéricos extremos. O nosso padrão de consumo, de ocupação do espaço e de mobilidade têm que ser repensados.
O inconformismo é a resposta adequada à inquietação. Se estamos orgulhosos do que já demos a Portugal, não estamos ainda satisfeitos com o país que somos, queremos fazer melhor pelos portugueses.
Não hesitamos em trabalhar com todos os que acreditem nos ideais de liberdade, igualdade, solidariedade, sustentabilidade. Quebrámos o mito de que havia forças progressistas que não podiam ser construtivas.
Continuaremos a ser a força que lidera o bloco progressista em Portugal enquanto for essa a vontade dos Portugueses e queremos manter a capacidade de reinvenção permanente do socialismo democrático para merecer essa confiança.
Acredito que a causa socialista nos convoca mais a pensar no que está por fazer, do que a defender o que já está feito – dando-nos, em igual medida, motivos para nos enchermos de orgulho e força para continuar a trabalhar, todos os dias, para defender o bem público e alcançar o país ideal, com que sonhamos.
Tudo o que fizemos, tudo o que faremos é o resultado da confiança que os portugueses tiverem em nós.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico