Espanha
Às voltas em Tenerife, dos golfinhos ao Carnaval
Sentado na proa do barco, em pleno oceano Atlântico, Ancor Robaina ainda se lembra de ver nascer o primeiro centro comercial em Tenerife e de passar férias na zona sul, onde ainda não existiam casas. Recorda as histórias do seu avô, que deixou a agricultura para percorrer as estradas antigas num camião, transportando solo fértil do norte da ilha para o sul, uma área que, devido ao clima, permaneceu desertificada e subdesenvolvida durante muito tempo. Desse solo, viu nascer várias plantações de bananas - actualmente o produto mais exportado da ilha, cerca de 140 mil por ano. Já o tio de Ancor não seguiu os passos do pai, antes acompanhou o crescimento massivo do turismo em Tenerife. Ainda adolescente, deixou os estudos para trabalhar na construção civil. “Enquanto que o meu avô passou mais de dez anos a transportar terra para as plantações de bananas, o meu tio passou vinte anos a destruir o trabalho do pai, a construir hotéis no lugar das plantações”, conta Ancor, que há 37 anos vive na maior ilha do arquipélago das Canárias. “Nos anos 1980, a cada mês nascia um novo hotel. A mudança foi tão rápida que o Tenerife antigo ainda existe e vive juntamente com o novo”.
Tal como a sua família, Ancor dá corpo a essa evolução da ilha. Depois de estudar Turismo, viveu durante um curto período de tempo na Alemanha e Inglaterra, até decidir voltar para Tenerife. Trabalhou em hotéis e é guia turístico há dez anos. Acabou por também dar resposta ao aumento de turistas que se verificava de ano para ano, assim como a maioria dos agricultores, que venderam os seus terrenos para a construção de hotéis e infraestruturas turísticas, ou os pescadores que converteram as suas embarcações para actividades ligadas ao turismo de mar como a observação de cetáceos.
Todos os anos, milhares de turistas chegam a Tenerife atraídos pelo Carnaval de Santa Cruz de Tenerife, conhecido por ser o segundo maior do mundo. “Acho que a minha percepção de Carnaval já não é a mesma de quando era adolescente, que só gostava de beber, sair e era tudo sobre a festa”, confessa Ancor. “Agora vejo o Carnaval através das pessoas. Sem essa motivação e esse tempo, isto não é possível”.
Este ano, cerca de dez mil pessoas participaram nos vários desfiles de Carnaval, cujo tema foi a Fantasia e Mitologia. Nas ruas de Santa Cruz, as famosas “matrafonas” destacavam-se dos exércitos de super-heróis, rainhas e palhaços. Em cada esquina, uma música diferente. À janela ficaram aqueles que preferiram apreciar a festa vista de cima. Lá em baixo, idosos misturaram-se com bebés, e as máscaras tornaram a cidade – de casas rosas, azuis e amarelas - ainda mais colorida. “São as pessoas que fazem o Carnaval e não o espectáculo em si”, conclui Ancor.
O PÚBLICO viajou a convite do Turismo de Portugal