Dificuldades na linguagem antes do 1.º ciclo

Entrar no primeiro ciclo sem ter dominado a comunicação oral, seja por dificuldades em exprimir-se ou em perceber o que lhe é dito, pode comprometer o sucesso escolar.

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Adriano Miranda

É pela linguagem que o ser humano comunica e aprende. Entrar no primeiro ciclo sem ter dominado a comunicação oral, seja por dificuldades em exprimir-se ou em perceber o que lhe é dito, pode comprometer o sucesso escolar. A importância de que a linguagem se reveste em todo o processo de desenvolvimento da criança torna-se evidente, uma vez que vai mediar todas as suas aprendizagens e aquisições.

A criança pode ter dificuldades numa ou nas duas áreas da linguagem, a compreensão e a expressão (excluído eventual défice de audição). A compreensão refere-se ao que a criança assimila e como processa a informação que lhe foi transmitida, e a expressão ao que a criança diz e à forma como o transmite. Existem vários sinais a que se deve estar atento, tanto ao nível da compreensão quanto ao da expressão: 
– a criança parece estar atenta ao que lhe dizem, mas não se lembra do que lhe foi solicitado;
– nem sempre responde a perguntas ou pedidos;
– tem dificuldade em iniciar uma conversa e responde de forma curta quando lhe é feita uma pergunta;
– apresenta um discurso desorganizado e sem sequenciação de ideias;
– produz habitualmente frases simples e tem dificuldade em organizar as palavras na frase.

Detectar precocemente estas dificuldades é, pois, essencial: quando existem alterações no processo de aprendizagem da linguagem oral é possível que venham a acontecer posteriores dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita (a própria investigação do desenvolvimento de crianças com dificuldades de leitura e escrita assim o indica).

A linguagem apresenta três grandes dimensões: a forma (como se diz) – fonologia (sons), morfologia (palavras) e sintaxe (o arranjo destas); o conteúdo (o que se diz) – semântica/léxico; e o uso (onde se diz) – pragmática.

Entre as alterações de linguagem oral existentes na infância, são as dificuldades fonológicas – muitas vezes desvalorizadas por se considerar que serão superadas com a entrada no primeiro ciclo –  que podem ocasionar maiores prejuízos na aprendizagem posterior da leitura e da escrita. Na verdade, quando a criança é exposta a novas aprendizagens sem as bases linguísticas suficientes, terá ainda maiores dificuldades. As insuficiências na oralidade acabam por influenciar direta ou indiretamente todas as áreas curriculares, visto que a avaliação será feita não só pelo que aprenderam, mas também pela forma como transmitem os seus conhecimentos, nomeadamente através da escrita.

A linguagem oral que uma criança apresenta na entrada para o primeiro ciclo é a base da linguagem escrita com que passará a confrontar-se, ou seja, o desenvolvimento da linguagem oral está intrinsecamente relacionado com a aprendizagem posterior da leitura e escrita e o conhecimento de ambas as vertentes da língua (oral e escrita) é indispensável para a integração e domínio da maioria dos conteúdos disciplinares que constituem o currículo escolar dos alunos.

Isto quer dizer que as aprendizagens assentam em conhecimentos previamente adquiridos: para somar ou subtrair é necessário conhecer os números; para ler é necessário conhecer as letras.

Em suma, o desenvolvimento da linguagem é uma variável que influencia bastante o desempenho académico da criança no primeiro ciclo, sobretudo nas áreas da leitura e da escrita. As dificuldades numa e noutra estão bastante relacionadas, uma vez que a primeira condiciona fortemente as segundas. Daí a importância dos adultos (pais/educadores/professores) estarem atentos e serem agentes ativos no desenvolvimento linguístico das crianças, que começa com a correção quotidiana dos erros de expressão.

A rubrica Estar Bem, que esta semana conta com a colaboração das Terapeutas da Fala do CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão, encontra-se publicada no P2, caderno de Domingo do PÚBLICO. As autoras seguem o Acordo Ortográfico

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